UMA ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA À ETNOGRAFIA RURAL
De alguma forma, sentimos que existe em Portugal um profundo, e até certo modo incompreensível, hiato entre a etnografia rural levada a cabo durante o século XX, quer por etnógrafos académicos, quer por entusiastas locais, estes últimos não merecendo menos respeito por serem “regionais”, antes pelo contrário. Nas últimas décadas, pensamos que houve claramente uma mudança de eixo nas preocupações da antropologia contemporânea em relação a temáticas e a contextos urbanos e de crítica social e política, o que sendo legítimo, deixou todo um vasto território rural à mercê de simplificações patrimoniais para efeitos de promoção turística e de divulgação de produtos endógenos.
Passada uma década, a Binaural Nodar mantém um fluxo permanente de trabalho etnográfico e de projetos associados, que podem ser resumidos nos seguintes aspetos:
- Ligação a iniciativas de índole municipal e em estreita parceria com os atores locais, na identificação de temáticas e de comunidades a estudar: desenvolvemos, por exemplo, trabalho sobre as seguintes temáticas: ciclos cerealíferos do milho (em Bondança, São Pedro do Sul), do linho (Rompecilha, município de São Pedro do Sul e Várzea de Calde, município de Viseu) e do centeio (Sequeiros, município de São Pedro do Sul, Carvalhal de Vermilhas e Campia, ambas do município de Vouzela); criação de gado bovino, formas de trabalho e transporte associadas como os carros de vacas (em Bondança, Rompecilha e Nodar, todas do município de São Pedro do Sul, em Várzea de Calde, município de Viseu); mundo vegetal (em Varzea de Calde e Cabrum, município de Viseu e Gosende, município de Castro Daire); artes e ofícios (em Posmil e Macieira, município de São Pedro do Sul e em Campo Benfeito, Ribolhos, Vila Pouca e Parada de Ester, todas do município de Castro Daire); rituais religiosos (Candal, Sequeiros, Sul, Manhouce do município de São Pedro do Sul, em Ribafeita, Côta e Várzea de Calde do município de Viseu, em Vouzela, Carvalhal de Vermilhas e Paços de Vilharigues, todas no município de Vouzela); a vivência das comunidades ribeirinhas ao rio Paiva (em todo o curso do rio Paiva, desde a nascente em Carapito, município de Moimenta da Beira até à foz em Castelo, no município de Castelo de Paiva) e etnomusicologia (Candal, Manhouce, Rompecilha e Sequeiros no município de São Pedro do Sul, Carvalhal de Vermilhas no município de Vouzela, Várzea de Calde no município de Viseu, etc.) e tantas outras temáticas, entrevistas e gravações de paisagens sonoras.
- Catalogação e criação de arquivos digitais catalogados criados pela Binaural Nodar e, em alguns casos colocados à disposição das comunidades: existe uma plataforma em linha principal Arquivo Digital Binaural Nodar, a qual agrega todos os registos que estão já editados, catalogados e descritos, organizando-os em múltiplas categorias de acesso (lugares, temas, tipo de registo, etc.), o que permite que se criem sub-arquivos personalizados, como foi realizado para o Museu do Linho de Várzea de Calde (Arquivo da Memória de Várzea de Calde) e para o município de Castro Daire (Arquivo Digital Memória sobre Rodas).
- Participação em redes internacionais de investigação etnoantropológica em contexto rural e de criação artística contemporânea assente em pesquisa etnográfica (rede Tramontana e rede Where the city loses its name), o que tem permitido à equipa um aprofundamento conceptual multidisciplinar e a colaboração com especialistas de renome internacional (etnografia, etnolinguística, etnobotânica, etnomusicologia, gestão de arquivos digitais, metodologias de participação social, etc.) e a difusão do trabalho realizado pela Binaural Nodar em múltiplos contextos internacionais.
- Difusão em múltiplos formatos de objetos culturais, baseados nas recolhas efetuadas, tendo em conta o interesse das comunidades e dos municípios e também a liberdade criativa da própria associação: exposições etnoartísticas “mixed-media” em museus etnográficos (Museu do Linho de Várzea de Calde, Museu Municipal de Vouzela, Casa da Ribeira em Viseu, etc.), produção editorial (vide capítulo “publicações” neste sítio), ateliês de formação patrimonial (vide capítulo “Programa Educativo” neste sítio), criação de peças sonoras (vide lista de reprodução “Sound Compositions” na página Soundcloud da associação) e realização de documentários, sendo os mais relevantes “Bondança: Abundância” de Manuela Barile, “Carvalhal de Vermilhas: Lugar sentido” de Luís Costa e Cátia Rebelo, “À Eira” de Liliana Silva, “Linho: histórias ao longo dum fio” de Manuela Barile e “Várzea de Calde: Uma aldeia tecida a linho” de Luís Costa, entre outros.
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DOCUMENTÁRIOS ETNOGRÁFICOS
Bondança: Abundância
À Eira! O centeio que resiste em Campia
Linho, Histórias ao longo dum fio
Lugar Sentido: Carvalhal de Vermilhas
Várzea de Calde: Uma Aldeia Tecida a Linho
LEITURAS ADICIONAIS
(clicar nas imagens abaixo para ler os livros)
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