Sound garden

Instruções para fazer um jardim sonoro na última casa dos Açores, uma aldeola (5 habitantes) no fim da estrada no centro de Portugal. Esta casa, em particular, possui 3 partes. A última parte é muito pequena e consiste de apenas um só quarto. Neste momento não passa de uma cozinha, a qual ainda deixa espaço para uma cama. Encontra-se virada para um terraço com uma mesa de pedra, na qual um pode trabalhar se não chover. Pode-se começar por agregar matéria morta, folhas secas de uma palmeira ou duas latas vazias de concentrado de tomate-suspender o dispositivo em frente da casa para a esquerdada porta pequena e colocar um motor pequeno na mesma. Pode-se fixar um pequeno ventilador de silicone no motor para que o dispositivo batesse em várias partes da estrutura e assim abaná-la. Por entre algumas pedras na parede exterior no exterior da casa, poderão ser encontradas partes de algumas velhas ferramentas de jardim. Uma das ferramentas pode ser suspensa ao lado de uma estrutura de latas de tomate, para que o ventilador possa por vezes atingir a estrutura dependendo do vento. Com vento, vêm bastantes mudanças e variações.

Ocasionalmente o ventilador pode ficar preso por uns segundos. A solução proverá ser colocar um pouco de manteiga no ventilador se ficar bloqueado por grandes períodos de tempo. Conectar a maior das duas latas à parte metálica do tecto com arames metálicos para que as vibrações possam viajar confortavelmente. Atar firmemente um fino arame metálico, à lata de tomate, ajustando o comprimento do arame para que atinja a pedra assim que abanado. Num sítio próximo, é possível encontrar um velho balde de leite em metal galvanizado. Suspenso num fio metálico, na frente da casa, à direita da porta, prendendo-o ao telhado de modo que fique ligeiramente acima do solo.

A caminho de Açores (São Pedro do Sul), depois da minha chegada ao aeroporto do Porto, no parque de estacionamento da primeira àrea de serviço encontrada, existem algumas palmeiras de pequena dimensão a partir das quais foi possível cortar discretamente algumas das compridas, finas e secas folhas de 25cm.

Prender as folhas em volta de um pequeno motor de baixa tensão, semelhante a uma aranha gigante. Suspende a aranha para que a mesma possa tocar o balde de leite; conectar o motora um micro controlador que possa comandar a velocidade do mesmo de acordo com variantes de tensão. Posteriormente, corta-se o cabo “+” (ou o “-”) do motor, enquanto se despe as pontas.

Eventualmente, pode-se embrulhar uma pedra plana em papel de alumínio e ligar à ponta do cabo que entra no motor. Conectar a outra ponta (ligada ao microcontrolador) a um garfo; suspenda este garfo acima da pedra embrulhada de tal forma que, quando o garfo balançar, a ponta desencapada do cabo toque na pedra ao passar por cima. Desta forma, o contacto é regularmente alterado, e o motor liga-se e desliga-se. Quando não há balanço, o contacto é permanente. Existe outro balde de leite algures, quando for achado, pode-se furar uma lata de atum e suspender a mesma numa árvore de pequena dimensão com a ajuda de arames metálicos.

Mais tarde, no jardim, há um abrigo de cabras abandonado, feito a partir de madeira e ferro ondulado. Perfura-se o teto do abrigo com arame metálico e suspende-se um pequeno motor movido a bateria de fio de aço. É possível estabilizar o motor com pequenos pesos para que ele não possa mais girar. Quando o motor é ligado, o mesmo irá ressoar pelos fios e pela estrutura de ferro do abrigo de cabras. Ao estender a teia de fios ou adicionar material do jardim, enriquece-se a ressonância criada. Outra opção seria embrulhar o motor em diversas folhas de espigas de milho, com o objectivo de adicionar um som suave de “frrr” à composição sonora. Para além destas, existem muitas mais escolhas por onde prosseguir, a sugestão seria começar por estas e errar de vez em quando. O erro é uma excelente forma de obter resultados diferentes.

Pierre Berthet (Bélgica). Estudou percussão com André Van Belle e Georges – Elie Octors no Conservatoire Royal de Musique de Bruxelles (primeiro prémio em 1986) e no Conservatoire Royal de Musique de Liège (improvisação com Garrett List, composição com Frederic Rzewski e teoria musical com Henri Pousseur). Desenha e constrói objetos sonoros e instalações em espaços naturais e construídos (aço, plástico, água, campos magnéticos…) que apresenta em exposições e em performances a solo ou em duo, com Brigida Romano (CD “Continuum asorbus” na etiqueta Sub Rosa) ou Frédéric Le Junter (CD “Berther Le Junter” na etiqueta Vandœuvres). Tocou percussão na Orchestra of Excited Strings de Arnold Dreyblatt e lançou até ao momento três CDs: “Un cadre de piano prolongé” (Sonoris), “Two continuum pieces” (Sub Rosa) e “Extended loudspeakers” (Sub Rosa).

OBRAS ARTÍSTICAS