“89” – RE:Fujaco
Miguel Carvalhais e Pedro Tudela colaboram como @c desde 2000, desenvolvendo trabalho sonoro ou audiovisual, quando acompanhados pela artista austríaca Lia. O seu trabalho desenvolve-se por três abordagens complementares à arte sonora e à música digital: a composição procedimental, a música concreta e a improvisação. Ao longo dos anos, Tudela e Carvalhais têm vindo a desenvolver composições progressivamente mais estruturadas e complexas, entre os campos da música experimental, da arte sonora e da performance ao vivo.
Não há grandes certezas quanto à origem do nome da aldeia do Fujaco, no entanto, reza a história que ali bem perto do Fujaco se travou, há muitos anos, uma guerra. Da frente da batalha desertou um homem que se escondeu debaixo de uma fraga. Para não adormecer e não ser surpreendido pelos lobos, fazia renda. Entretanto, casou e construiu família e assim nasceu a povoação. O nome da aldeia vem precisamente de fujão, referindo-se ao homem que fugiu. No fundo de um vale ergue-se um punhado de casas com uma particularidade em comum, os telhados são feitos de grandes lâminas de xisto
Há algo na verbalização que tem uma consistência diferente da que se quantifica num texto visto e lido. As suspensões, o fôlego, o ataque e o término das palavras ou das frases. Estes, a par do timbre, são jeitos ligados ao dizer e que contribuem para diferenciar, personalizar e identificar as vozes que o dizem. No cantar, nas rezas ou mesmo nos discursos, estas verdades dilatam, porque as palavras ditas apresentam-se estendidas com a qualidade dos harmónicos e dos tons. Separar estes resultados aditivos e isolá-los com processo subtrativos, transforma a legibilidade do discurso em ruído, que não abdica nem rejeita em pleno o filtro a que foi submetido, mas alvitra uma nova plasticidade sonora solta da narrativa inicial.
Pedro Tudela (Viseu, 1962) é artista plástico e músico, Miguel Carvalhais (Porto, 1974) é designer de comunicação e músico. Ambos lecionam na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Como @c, têm trabalhos editados pela Crónica (pt), Grain of Sound (pt), Sirr (pt), Ristretto (pt), Sonic Acts (nl), Index (at), Mille Plateaux (de), Lanolin (at), Silenceis Not Empty (ir) e Alg-a (es). Ao vivo os @c apresentam-se em duo ou como um trio audiovisual com a artista austríaca Lia.