Onde a cidade perde o seu nome
Publicação com 100 páginas a cor
Número de catálogo: WTCLIN.001
© 2020, LaFundició, Binaural Nodar, Fundatia AltArt
Esta publicação não pretende fechar dois anos de colaboração entre os coletivos do projeto Where the city loses its name (“Onde a cidade perde o seu nome”): LaFundició, Binaural Nodar e AltArt. Em vez disso, é um artefato que condensa algumas das discussões e intercâmbios que tivemos durante esse tempo. Where the city loses its name, em si mesmo, insere-se num horizonte temporal mais amplo, pois a ligação dos três coletivos com os territórios onde habitualmente realizam as suas ações antecede o projeto, e continuará depois de este estar concluído.
A das barracas é uma memória incómoda por muitos motivos. A sua recordação questiona os relatos mais simplistas e lineares do progresso moderno, que incluem a urbanização e a industrialização como dois dos seus elementos centrais. Apesar de relegados ao esquecimento, deixados de lado, os bairros de barracas foram – e ainda são – parte essencial do desenvolvimento urbano que serviu para absorver, a um custo mínimo, as grandes massas populacionais exigidas pela Indústria. Ao mesmo tempo, os bairros de barracas serviram para empurrar aqueles indivíduos e grupos indesejados ou considerados improdutivos para as margens da cidade. Mas podemos entender os bairros de barracas como uma entidade política em si mesma, com as suas próprias formas de organização, as suas próprias práticas culturais, e não apenas enquanto um instrumento subsidiário da cidade formal ou como uma espécie de excrescência urbana. A partir desta posição, a da barraca, começamos a ver que os seus habitantes não são apenas vítimas passivas de uma situação fora de seu controle, mas que têm agência, desejam e lutam.
Muito do que foi dito e escrito sobre as barracas é sobre como erradicá-las. Urbanistas, sociólogos, assistentes sociais, educadores … preocuparam-se em elaborar estudos, relatórios e planos com o objetivo de as fazer desaparecer. Esses documentos são, em grande medida, aqueles que construíram a nossa percepção sobre os bairros de barracas e os seus habitantes. São a memória que temos, enquanto sociedade, das barracas. Entendendo que a memória não é algo dado, mas que deve ser produzida, perguntamo-nos: Que memória podemos produzir fora dos arquivos? Quem, além dos especialistas, tem o direito de lembrar e de representar?
Olhar para o passado geralmente não serve tanto para deter- minar quais os eventos que aconteceram antes e quais não, quanto para nos dar uma explicação sobre o nosso presente. Encontrar novos pontos de vista a partir dos quais examinar o passado, dando origem a situações em que outras vozes se façam ouvir, produzindo dispositivos de enunciação dos quais outros se possam apropriar… são estratégias para construir coletivamente visões diversas, discrepantes e mais complexas sobre o nosso presente.
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