“O Bastão do Mendigo“ é uma peça audiovisual experimental, da autoria do coordenador da Binaural/Nodar, Luís Costa. A peça foi parte de Divina Souns Ruris, um programa de arte sonora e media dedicado a interações entre som e religião que ocorreu ao longo de 2013, e é uma reflexão baseada na presença ancestral de mendigos durante as procissões religiosas no Maciço da Gralheira  (São Pedro do Sul, Portugal).

“O Bastão do Mendigo“, comemora um ano inteiro que a Binaural/Nodar dedicou à interação criativa com temas e entidades religiosas e que visou a promoção de um diálogo sincero com a hierarquia local da Igreja Católica, no reconhecimento da importância da religião na vida das comunidades rurais onde a Binaural/Nodar desenvolve as suas atividades.

O Bastão do Mendigo

Contou-me o meu pai
que por volta dos anos 40 do século passado
os mendigos percorriam a pé
todas as manifestações religiosas do maciço da Gralheira,
como a romaria ao monte de São Macário
no último fim de semana de julho.

Logo a partir do meio da semana,
já os mendigos se dirigiam para o local da peregrinação.

Iam pedindo esmola de aldeia em aldeia
para,  no sábado à noite, o mais tardar no domingo pela alba,
se perfilarem com toda a restante legião de pedintes
que assentava arraiais à porta das capelas no cimo do monte.

Com os seus bastões de caminhantes,
roupas andrajosas e
sandálias muitas vezes rotas.
tirando partido da envolvência de fé
que se respirava na ocasião.

Mendigos.
Estes mendigos antigos.
Pobres mas gentis.

Às vezes queria que fossemos mais mendigos e menos senhores,
Voltarmos à necessidade quotidiana,
à liberdade absoluta de escolher o caminho

Humildade, pobreza e verdade,
como bases de uma revolução que nunca chegará a acontecer.

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