Rádio-Galena
Existe uma necessidade de nos posicionarmos em relação ao mundo da arte e a algumas leituras muito específicas do que é arte, do que é a tecnologia. É muito comum, em São Paulo por exemplo, dar-se mais importância ao que é mais “high-tech” na arte e não ao que é propriamente mais humano. Usar estes materiais quase sem tecnologia, em que o próprio material é a própria maneira de funcionar, é uma forma de nos posicionarmos contra essa perspectiva da tecnologia.
Esta é uma questão curiosa: -pensar se o áudioestá intrinsecamente ligado ao material ou não. Por exemplo, o trabalho que nós apresentamos na ponte de Nodar não teria sentido poético noutro lugar; a ideia de que a ponte costura os dois lados do rio (utilizando feixes de laser). Fazer o mesmo trabalho noutro contexto era possível, mas devia perder um pouco da sua essência, da sua força.
Três dos trabalhos que apresentámos já tinham sido testados noutros contextos e julgamos que seria interessante deixá-los diretamente na paisagem e não fechados num “cubo branco”, que é onde normalmente temos a oportunidade de mostrar o nosso trabalho. Em Nodar, ao contrário da cidade grande, tivemos a oportunidade de criar coisas que pudessem trabalhar com as forças da natureza: o sol, a água, o vento. Mas ao chegar lá, a realidade mostrou-se diferente daquilo que tínhamos imaginado: por exemplo, a água do rio não tinha tanta força para movimentar o mecanismo de uma das peças. No final vimos que os trabalhos não se encaixavam na paisagem, mas tentando manter a ideia inicial de deixar os trabalhos inseridos na paisagem, procurámos que tal não acontecesse de uma forma impositiva.
Conceptualmente os trabalhos não perderam a sua essência de falar sobre o material, sobre a possibilidade de pensar a obsolescência. O que é que é, de facto, uma coisa que não tem mais porquê, não serve mais para nada? Esta combinação estranha de materiais como a parafina, madeira, alumínio, raio laser é uma forma de deixar a expressividade do material falar por si próprio e não a utilidade normal do material falando em primeiro lugar. Às vezes acabamos por dar mais importância à utilidade que as coisas têm do que à vida interior que elas próprias têm, à sua própria imanência
Luciana Ohira (1983) e Sergio Bonilha (1976), nascidos e envelhecidos na Cidade de São Paulo (Brasil), são licenciados em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo e mestres pelo Programa “Poéticas Visuais” na mesma Universidade. Em conjunto, já apresentaram suas traquitanas em três dos quatro cantos da Terra.