Dream objects

Assim que um objecto é distinguido pelo nosso olhar, automaticamente passamos da percepção para o domínio da interpretação. Foi intenção do projecto pensar os objectos na sua dimensão temporal, independente tanto das nossas interpretações como das nossas percepções. Dada a impossibilidade de sentir o tempo real de um objecto, é deixado à imaginação o descobrir as mudanças que constantemente ocorrem sem que as possamos ver. Como dizia Jean Baudrillard: “Por detrás de cada objecto real existe um objecto desonho.” O projecto principiou com a descoberta de um lugar perto da aldeia de Nodar,situado numa pequena parcela de eucaliptal. Numa das curvas do Rio Paiva, uma pequena elevação de terreno oferece um ponto de vista isolado, englobando a aldeia e as montanhas circundantes. Apesar da estrada de terra batida que ali existe, acompanhando o rio,normalmente ninguém anda pela área forestal. Uma constante visual no dia-a-dia, a vista da foresta é familiar para os olhos mas remota para a experiência física. Composta por duas partes, a peça foi criada reordenando os materiais existentes no local para formar uma estrutura artifcial com a marca inequívoca da inteligência humana–uma interpretação do espaço que propunha fazer transcender o lugar da sua realidade imediata. Depois de uma caminhada sinuosa por entre a vegetação densa, o local podia ser encontrado no meio da foresta. Mesmo nos primeiros dias após a conclusão do trabalho, e mesmo depois de se ter presenciado várias vezes o trabalho, o reconhecimento das esculturas não era algo imediato. A vegetação densa e a misteriosa disposição das formas provocava invariavelmente um efeito de surpresa e desorientação. Para além disso, as variações de luz ao longo do dia afectavam drasticamente a percepção do espaço e dos objectos no interior da foresta, conduzindo a que a observação das esculturas fosse, a cada nova vez,radicalmente diferente. A apresentação foi preparada utilizando registos sonoros e vídeo da acção de elementos naturais sobre a peça, tais como o vento, aluz, a passagem de pequenos animais, etc.. Seis meses depois, após mudanças mais radicais provocadas pela acção da natureza, com a passagem das estações do ano e a decadência orgânica, a peça começou a revelar as suas implicações fnais. Esta é uma peça sobre a duração. Lança oolhar sobre as particularidades de um lugar como proposta para uma percepção conjunta da paisagem e da passagem do tempo, permitindo simultaneamente que estes processos de mudança nos infuenciem pessoalmente. À medida que o tempo passa e a entropia aumenta, a estrutura criada assemelha-se cada vez mais a formações naturais. Por outro lado, a distância ontológica entre o objecto real que o artista inicialmente propôs e as diversas possibilidades imaginadas pelo espectador estende-se até o infnito.

Jurate Juralyte nasceu em Joniškis, Lituânia, vivendo e trabalhando na Lituânia e na Alemanha. Detém um mestrado em pintura e teoria da arte pela Academia de Belas-Artes de Vilnius e desde 1995 tem desenvolvido inúmeros projectos de artes visuais, nomeadamente trabalhos “site-specific” em ambientes naturais os quais apresentou em festivais e galerias nos países bálticos e na Alemanha.

OBRAS ARTÍSTICAS