The Paiva river collection
Desde os meus primeiros anos de criação sonora e musical, eu tenho vindo a colecionar material perdido e achado. Equipamento que se rege desde gravações de campo feitas com instrumentos abandonados e/ou objetos abandonados e desperdiçados. Uma parte importante deste processo de seleção é a conexão com elementos naturais, como por exemplo: folhas, pedras, madeira seca, casca de árvore, sementes e flores secas, areia, …
Em 2004 houve um retorno brusco para a mesa discográfica como instrumento principal, após o aumento do cansaço em consequência do uso do hardware digitalhard software. Esta exaustão veio maioritariamente pela frustração do domínio digital sobre o meu quotidiano. Durante este processo comecei por me focar por completo em objectos encontrados, sendo que as minhas coleções tornaram-se a fonte principal da minha produção sonora ao serem directamente tocadas na mesa discográfica e amplificadas com um pequeno microfone condensador. Optei, especialmente, por materiais orgânicos como: flores secas ou folhas, que provaram ter um potencial enorme para a produção de ricas paisagens sonoras de grande importância, exibidas no meu catálogo de objectos. Recentemente, em turnê pela Austrália, devido a restrições severas pela quarentena do covid-19, não me foi possível trazer quaisquer material orgânico para o meu país. Por esta razão não me foi possível transportar partes do meu criador sonoro orgânico, sendo que decidi utilizar material encontrado (durante pequenas caminhadas) em parques ou jardins nas cidades de Brisbane, Melbourne, Castelmaine & Cairns. Ao encontrar materiais novos e únicos a partir de árvores e plantas que nunca tinha visto antes, nasce um novo e completo catálogo de sons com um potencial bastante interessante.
Após alguns dias de pesquisa e de alguma prática, realizo-me da forma correta de como manejar e tocar este novo catálogo musical. Ao passar por esta maravilhosa experiência, as minhas ideias e desejos desenrolam-se na manufactura de um futuro conjunto de obras completamente focadas numa dada topografia, bem como numa pesquisa acentuada na recolha (site-specific) de objectos e materiais encontrados. Objectos estes que poderiam diferir entre eles, desde que enquadrados em ambiente natural, tais como: pedras, relva seca, folhas, flores, pequenos ramos, troncos, casca de árvore, conchas, sementes…
A ideia para o meu projecto a realizar em Nodar seria fazer caminhadas e explorações diárias e intensivas, ao longo de toda a margem do rio Paiva durante 7-10 dias da residência; coletar diferentes tipos de material orgânica, que possam ser encontrados durante o percurso, e efetuar uma pesquisa teórica e experimental intensiva sobre as suas potencialidades sonoras realizada em estúdio. Nos últimos 4-5 dias, o material coletado seria agrupado em duas secções diferentes de trabalho:
1) uma instalação sonora, em que o som de cada objeto encontrado seria utilizado. A instalação seria semelhante a Little Stells ou Ghosts/Vibrations (ver documentação anexada). Os objectos sonoros seriam colocados em fios de nylon, que novamente estão conectados às membranas das colunas, que iriam transferir a sua vibração de pequenas ondas sonoras para os fios, pondo assim os objectos em ressonância & vibração…
2) A composição seria apresentada ao vivo pelos artistas, usando inteiramente os objetos encontrados na região em volta do rio Paiva. A performance, feita pelos artista, seria em “superfícies giratórias” sendo que os objetos/instrumentos seriam tocados diretamente na mesa discográfica na margem do rio, o que não seria uma referência direta à paisagem sonora frequentemente associada com o lugar, que consegue ser facilmente ouvida e gravada. A ideia seria mais cria um tangível abstracto de topografia sônica, através do ambiente de trabalho escolhido, com uma visão microscópica da paisagem natural e os seus componentes sônicos escondidos… A ideia é começar uma nova série de trabalhos que retornem a um outro conjunto de trabalhos site-specific da minha autoria denominado de “Metaflexes” (retratos desenhos de variadas áreas urbanas com paisagens sonoras específicas). O pretendido, será criar um esboço que retrate sonicamente ambientes diversificados. Nesta nova série, o trabalho Paiva River Collection, seria a versão piloto da inevitável continuação futura. Visto que a ideia prevista seria tocar estes novos objectos encontrados, na mesa discográfica, será crucial que o material usado secasse de forma consistente. (Para tal, iria pedir que o meu período de residência fosse durante a época de calor, verão/outono??).
Toca-discos, artista sonoro, performer & compositor. Na sua juventude estudou saxofone e performance em bandas de jazz e de avant rock. Ao mesmo tempo, ele ficou fascinado por gravadores multipista, leitores de disco e unidades de efeito. Com as mesmas, o artista começou a explorar combinando diferentes instrumentos e dispositivos de fabrico sonoro. Após a faculdade estudou brevemente na Academia de Belas Artes em Munique, onde também trabalhou durante alguns anos como assistente para o compositor contemporâneo Josef Anton Riedl. Desde o final de 95, Ignaz Schick trabalha e vive em Berlim onde se tornou uma força activa e integral da chamada “Berlin Nouvelle Vague”, bem como do movimento emergente “realtime music”. Desde o meio da década de 90, até aos dias de hoje, o seu interesse foi direcionado por completo para eletrônica ao vivo. Depois de alguns testes instrumentais (amostras de hard & software, processamento de sinal, microfones de contacto, gravações de campo…), Schick desenvolveu a sua única electro-acústica através de “superfícies rotativas”. Com objetos variados e diversificados (desde madeira, metal, plástico, papel ou até mesmo arcos de violino e pratos) são tocados diretamente no metal giratório da mesa discográfica, onde as vibrações são amplificadas com um microfone condensador. Com esta premissa, o artista descobre diferentes estilos de música contemporânea experimental-desde a reduccionismo extremo via ambiente, industrial, musique concrète eletrónica ao barulho extremo. Em adição ao seu conceito de preferência-a dual confrontação com Chris Abrahams (AUS), Andrea Belfi (I), Alexei Borisov (RUS), Sebastian Buczek(PL), Phil Durrant (GB), Gunnar Geisse (D), GX Jupitter-Larsen/The Haters(USA), Dawid Szczesny (PL), Martin Tetreault (CAN), Marcel Tuerkowsky (D) ou SabineVogel (D)– Ignaz Schick é membro fundador de diferentes assembleias artísticas como Perlonex, Snake Figures Arkestra, Phosphor, Blind Snakes, Decollage, Berlin Sound Connective, N.I.E. O artista já colaborou com inúmeros artistas internacionais (ex: Don Cherry & Charlemagne Palestine), com os quais realizou turnês e performances em editoras como Zarek, Edition Zangi, edition x, Irrah, Potlatch, Bad Alchemy, Charhizma, Staalplaat, Nexsound, Non Visual Objects, Improvised Music From Japan e Absinth, e produziu edições de rádio para ORF-Kunstradio, ORF-Zeitton, BR2, DLR, DLF, WDR3, DRS2 or Radio Copernicus (…). Mais recentemente, o artista tem sido curador de festivais de musica experimental desde a década de 90 até ao presente (FAM, Erase & Reset, Tim Shifts, The International Turntable Orchestra, (…), bem como confeccionado várias instalações sonoras e ambientais.