Kudum

KUDUM / the WEAVE é um trabalho e um processo contínuos. É uma investigação sobre o tempo, o lugar e o corpo. Pode assumir a forma de uma instalação, performance,peça de vídeo, acção ou ritual-dependendo da disponibilidade do local,do tempo e dos corpos.

KUDUM / the WEAVE começou sem qualquer intenção. Surgiu da experimentação e da curiosidade a partir do tempo e dos materiais disponíveis para a artista na altura. No início havia um trabalho. Daí a minha impossibilidade de construir um conceito. A única coisa que um artista pode fazer é explicar como foi concretizado e como evoluiu.

PRINCÍPIO

Lugar, árvores, fio fino de algodão vermelho.

Ligando duas árvores; esticando uma linha entre elas. Encontrando outras direcções entre esses vectores primários, caindo na magia de efectuar movimentos repetitivos, deixando essa repetição tornar-se parte de mim, sentindo-a por inteiro com o meu corpo. Repetir e repetir até que o erro ocorra, possibilitando a mudança. Jogando com os pontos de suporte disponíveis, dados pelas árvores, acrescentando novos pontos de apoio para a tecelagem, Caos, até que parece emergir alguma ordem, perdendo a ordem anterior: podia continuar assim eternamente. A repetição é uma actividade serena, encantatória, quase como uma meditação.

O tempo mudou, as tempestades impediam-me de ir trabalhar no exterior e continuar a prática diária de tecer. No entanto, consegui fazer alguma coisa nos intervalos entre chuvadas. Tornou-se uma prática diária e eu poderia ter continuado com ela, naquele lugar, se eu tivesse decidido ficarem Nodar para sempre.

A cada diaque passava,KUDUM / the WEAVE começava a ganhar corpo.Tinha já usado milhares de metros de fio. Nas minhas caminhadas ao outro lado do rio Paiva,subindo o topo da colina, podia ver a teia brilhar à distância.Poderia ter continuado para sempre. A partir desta rotina, tinha desenvolvido uma ideia para fazer algo mais imediato. Assim, um dia decidi criar um outro tipo de estrutura (por essa altura eu já tinha adquirido alguma experiência e técnica em “tecelagem florestal”).A minha ideia era construir um túnel de fio, o qual seria esticado entre quatro árvores.

Uma vez concluído, tencionava destruí-lo, movendo-me lentamente entre ele, sentindo a resistência da estrutura criada com o meu corpo. Estando dentro da estrutura que criei,também me libertei dela. O tempo tornou-se realmente chuvoso no momento em que acabei o trabalho. Eu tinha que estar atenta às mudanças de tempo e aproveitar qualquer melhoria que pudesse surgir. E esse momento surgiu quando o John Grzinich apareceu para me ajudar. Depois de colocar a câmara no local exacto e ensaiar, comecei, entrando por uma extremidade do túnel. O fio fino tornou-se uma estrutura forte que provocava agora alguma resistência ao corpo. Eu estava muito empenhada, tentando acompanhar o ritmo do corpo, costas e pescoço, lábios e testa, joelhos e dedos dos pés… A estrutura demorou algum tempo a ser destruída (pelo menos foi o que me pareceu). Ao chegar ao final da estrutura, o túnel tinha sido destruído. Eu tinha um pequeno emaranhado de fios vermelhos nas mãos. A partir dessa acção foi editada a peça vídeo Kudum.

Este tipo de exploração do material, local e corpo levaram-me a outras experiências e colaborações com pessoas diferentes, noutros tempos e lugares. Mas essa é já uma outra história.