Lá longe no tempo milenar, o território do noroeste da península ibérica conformou algo próximo de uma unidade territorial e cultural. Este facto seria praticamente irrelevante, se não confirmássemos ainda hoje um tecido de vínculos entre o Portugal a norte do rio Mondego, a Galiza, as Astúrias e Castilha e Leão, os quais são bem evidentes nos contextos rurais. Tipos de cultivos e de criação de gado, instrumentos, arquitetura vernacular, palavras, formas de organização comunitária, etc. etc. dão corpo a sensações evidentes de familiaridade (mas nós também fazemos ou dizemos isto ou aquilo!).
A origem da Binaural Nodar esteve intrinsecamente ligada a este sentimento de vinculação cultural transfronteiriço, através de encontros artísticos informais realizados na aldeia de Nodar entre os anos de 1999 e 2003, com a participação de artistas como Rui Costa (Lisboa), Iñaki Ríos (Valladolid), Pablo Rega (La Coruña) e Nilo Gallego (León). Estes e outros encontros foram decisivos para desenhar a metodologia de intervenção da Binaural Nodar, a qual foi fundada no final de 2024.
Nos primeiros anos de intervenção da associação foram acolhidos vários artistas do noroeste da Península Ibérica, como Roi Fernández (Pontevedra), Xexús Valle (Vigo), Nilo Gallego (León), Cristina Tascón e Ingrid Quiroga (León), Iñaki Ríos e Natividad Plasencia (Valladolid), tendo em 2007 sido coorganizado o festival Fronte[i]ras 07, uma reflexão artística e curatorial sobre o conceito de fronteira, levada a cabo entre duas associações culturais dos dois lados da fronteira galaico-portuguesa, Binaural Nodar e Alg-a.
Entre 2015 e 2019, a vinculação cultural ao nível do noroeste da Pensínsula Ibérica foi expandida através da realização de cinco edições do Festival Ocupai – Festival Ibérico de Arte e Ação, no âmbito das quais foram programadas dezenas de companhias e de artistas portugueses e das regiões espanholas referidas atrás, como Jorge Pascual, colectivo somospeces, Nilo Gallego, La Xata la Rifa, Marina Oural Villapol, Pequeña Victoria Cen, Pandereteras Gritsanda, Igmig, Isaac Cordal, etc. etc.
Em 2021 foi organizada uma residência artística com coletivos artísticos do noroeste da Península Ibérica, Binaural Nodar (Portugal), Oficina Galega de Outros Asuntos do Movemento (Galiza), La Xata la Rifa (Astúrias) e Somospeces (León), que trilham em que partilharam com os demais coletivos aspetos dos respetivos territórios e das formas artísticas que têm desenvolvido (poesia, dança, música, performance, arte sonora, vídeo, etc.), com o objetivo de criar alguns resultados que possam representar uma certa ideia de ser-em-comum.
Em 2022 foi realizado o projeto artístico “De Nodar em Nodar”, da autoria de Luís Costa, o qual explorou vinculações entre dois lugares rurais com o mesmo topónimo situados a 400 km de distância, um em São Pedro do Sul e outro no concelho de Friol (Galiza, Espanha). No mesmo ano, foi realizada no concelho de Viseu a residência artística “Ruralidades Limítrofes”, da autoria de Luís Costa e do poeta e performer de León Jorge Pascual.