Ecos do Dom
A antropóloga uruguaia Ana Rodríguez desenvolveu, entre 25 de setembro e 25 de outubro de 2020, uma residência criativa no território rural de Várzea de Calde (Município de Viseu). O ano de 2020 ficou marcado pelo início da pandemia Covid-19, pelo que se adiou o programa de residências artísticas para o ano seguinte. Não obstante, foi ainda possível realizar uma residência artística com a antropóloga uruguaia Ana Rodríguez, a qual deu sequência ao projeto realizado no ano anterior, com o início das recolhas para uma publicação intitulada “Ecos do Dom” e que aborda temáticas ligadas ao universo de práticas terapêuticas tradicionais em aldeias do município de Viseu e em localidades do Norte do Uruguai.
No decorrer da sua presença foi feita uma indagação sobre estas permanências e como elassão significadas atualmente pelos usuários. Nestes processos, que ajudaram no restabelecimento da saúde, intervêm algumas plantas, assim como narrações transmitidas oralmente ao longo de gerações que viveram e vivem no mundo rural. O trabalho atual retoma alguns trilhos que começaram a ser percorridos com o projeto “Plantas Faladas-Arquivo de memória vegetal”, cuja exposição retrospectiva se encontrou patente no Museu do Linho de Várzea de Calde até ao final do ano de 2020,sendo que a conclusão do projeto consiste na publicação do livro bilingue “Ecos do Dom” que inclui um vasto conjunto de fotografias que ilustram a paisagem sensorial relacionada com as práticas referidas.
Esta residência criativa fez parte do projeto “Viseu Rural 2.0” da Binaural Nodar, co-financiado pelo Programa Viseu Cultura do Município de Viseu e que conta com o apoio do Museu do Linho de Várzea de Calde.
Ana Rodríguez nasceu em Montevidéu em 1975, vive e pesquisa em contextos rurais desde 2001, ano em que se estabeleceu em Tacuarembó, no norte do Uruguai. Antropóloga formada pela Universidade da República do Uruguai. Cursou o mestrado em Teoria e Prática do Documentário Criativo na Universidade Autónoma de Barcelona. Formou parte da equipa docente do Núcleo de Estudos Rurais (Sede de Tacuarembó da Universidade da Repúblicado Uruguai) entre 2016 e 2018. Criou materiais didáticos audiovisuais sobre género e ruralidade para Faculdade de Agronomia do Uruguai (2016), um CD de contos de tradição oral com paisagens sonoras (Los cuentos de Mamá Carolina, 2013), criou o Mapa Sonoro do Uruguai (2016), sendo, desde 2013, artista e investigadora junto da Binaural Nodar. Ana Rodríguez tem vindo a trabalhar com memória, som e oralidade em contextos rurais, nomeadamente através do seu projeto Mapa sonoro de Uruguai e, desta, vez o foco da sua intervenção foram as práticas tradicionais ligadas ao cuidado e à saúde individual e da comunidade, as quais se foram transformando ao longo do tempo, ainda subsistindo em zonas rurais de países como Portugal e o Uruguai.