La Fragancia de los pensamientos salvajes
O projeto visa a exploração livre e aberta dos “ritos sagrados” locais como consignação, do ponto de vista de alguém que não foi educado na tradição católica e não tem experiências anteriores em Portugal. Depois de uma aparição virgem, mas não ingénua, as perguntas vão induzir relatos honestos, explicações, histórias de tradições locais relacionadas com a ligação entre a religião e a vida quotidiana, bem como com eventos especiais. Irá ser explorada tanto a dimensão da comunidade (festas, procissões, batizados) como a do universo doméstico (orações, benzeduras, rituais de cura). Não se trata da investigação antropológica de uma académica, mas de uma investigação experimental, realizada num período de tempo curto. É uma incursão que não pretende apoderar-se dos tesouros dos anciãos do lugar, mas apenas um intercâmbio cultural humilde. Uma uruguai a procura na memória do jardim cultural rural de Portugal as possíveis influências sobre as tradições que moldaram, com contribuições de colonizadores espanhóis e imigrantes e de elementos culturais indígenas, o bosque cosmogônico das culturas rurais do norte do Uruguai, nomeadamente influenciadas pela contribuição do Português Brasileiro. Mas nunca sabe o quê e quem é que se vai encontrar. Esta é a motivação, a curiosidade, o ponto de partida. Da gravação desses encontros serão realizadas duas peças para rádio, com uma duração estimada de 20 minutos. As peças de rádio serão compostas de diferentes materiais, a partir de conversas, entrevistas, paisagens sonoras, recitações, leituras e material de arquivo. Serão trabalhadas maneiras de aportar ao relato sonoro, elementos que deem informações de contexto e compreensão sensível.
Nascida em Montevidéu (Uruguai, 1975), Ana Rodriguez aos vinte cinco anos abandonou o mundo que conhecia e foi viver para o campo. Foi ocupa rural numa aldeia com cento e vinte habitantes e com o seu apoio resistiu sozinha durante seis anos. Ao sétimo caiu em tentaçãoe regressou à cidade para empenhar-se num projeto, um arquivo oral e audiovisual, que tinha construído em conjunto com a gente de várias aldeias e com o apoio do Bispado de Tacuarembó. Não se adaptou, e namorou-se de um rapaz do País Basco e mudou-se para lá. Cuida de ovelhas e faz queijo. Investiga a memória sonora dos pastores locais. Ana Rodriguez tem um diploma na área das ciências antropólogas pela Universidade do Uruguai, bem como um Mestrado em Teoria e Prática do Documentário Criativo pela Universidade Autónoma de Barcelona. Já trabalhou na área do arquivo etnográfico, com som e vídeo, em dois projectos realizados na região de Tacuarembó (Norte do Uruguai) e Carranza Valley, Bizkaia (País Basco), onde a mesma viveu de 2008 a 2013. Fez parte de diversas equipas documentalistas, onde desenvolveu projetos como “Aquells Joves” (2012), “Desde Baix” (2012), “Seat, las Sombras del Progreso” (2012), sendo que foi cineasta de filmes etnográficos como “La Ganadería en el Valle de Carranza” (2008), “Las Hogueras San Juany El Divino del Cerro el Ventana” (2005) e “El Jesús de Praga del Cerro de la Virgen” (2005).
OBRAS ARTÍSTICAS