Como reinventar algo? Numa mente saudável, a criação de “novas” memórias é algo constante, quer seja por inspiração de material cru ou por inevitáveis re-interpretações. Ao recordar algo, estamos a juntar de novo as peças do puzzle com o objectivo de voltar a vislumbrar a imagem original. No entanto, estes replays e “portas” que voltamos a abrir, modificam de forma consciente ou inconsciente, o original que assim vai sofrendo alterações, mediante o estado de espírito atual daquele que recorda. Este, pode escolher eliminar ou acrescentar certos pormenores, modificando assim o significado da experiência. A fotografia acaba por ser uma experiência em pausa. O juiz tradutor do acontecimento factual. O próprio reflexo, seja no espelho ou na água (por exemplo), não mostra a imagem pretendida. Assim, inspirei-me em reinventar esta matéria/médium factual, re-encenando memórias passadas com uma perspectiva atual, explorando a ponte entre o autobiográfico e o auto-topográfico.

O acumular de anos vividos pode-se traduzir em diversas camadas de experiências, diversos álbuns de memórias. Gota a gota enche-se um oceano, para onde os rios que nunca param de correr desaguam. A gota de água perdura, mas mediante o seu trajeto, acaba por ser classificada de forma diferente. A repetição da experiência faz nascer uma que seja familiar, nunca igual. Nunca se veste a mesma peça de roupa da mesma forma duas vezes. Ana Ferreira ao re-encenar uma pequena seleção do seu leque de memórias, teve o cuidado de preservar sempre algo familiar. Partindo do local escolhido, a Freguesia de Côta natural da sua família, seguindo pelas vestimentas tradicionais de trabalho, fato escuro, lenço e/ou chapéu de palha até à escolha dos modelos, até à escolha dos modelos – os seus dois irmãos mais novos (também eles estudantes na área das artes) Nuno Miguel Fareleira e Ana Marta Fareleira. Não esquecendo o local de apresentação, a garagem da casa dos avós maternos da artista. 

A apresentação de “Janelas de Outrora” consistiu em diversas caixas ou janelas de luz com estas re-encenações de memória, acompanhadas por uma peça sonora.

Previamente a artista já explorou a abertura destas Janelas de pensamento. Com este projecto as Janelas já se encontram abertas sendo que o resta é a modificação ou interpretação da informação fornecida.

Ana Margarida Ferreira (n.1998 – Viseu, Portugal) é uma jovem Artista Plástica com raízes familiares na aldeia de Nogueira de Côta, município de Viseu, licenciada em Artes Plásticas-Ramo de Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, neste momento a frequentar o Mestrado em Criação Artística Contemporânea pela Universidade de Aveiro, no âmbito do qual efetua um estágio com a Binaural – Associação Cultural de Nodar. Com um pequeno portfólio de exposições realizadas fora e dentro de ambiente académico, Ana Margarida Ferreira visa explorar diversas técnicas e materiais com um foco particular em temas como a memória, questões de identidade e questões sócio-culturais.

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