Any way the wind blows
«Any Way the Wind Blows» (“Sopre o Vento Como Soprar”) é um trabalho de instalação e gravação sonora planeado para uma residência de duas semanas.
Conceptualmente, lidei com a noção do lugar da arte como algo que existe aos olhos do espectador.Como naquele velho provérbio: “quando uma árvore cai na floresta e ninguém ouve será que ela caiu?”
A minha proposta de trabalho inicial foi inspirada pelo artista plástico Richard Long que registou os seus longos passeios com fotografias das esculturas que ia fazendo com materiais recolhidos nos locais por onde passava.Pensei fazer aqui algo semelhante com o som, caminhando pelas colinas,com instalações temporárias ou intervenções utilizando elementos de Nodar, sobretudo o vento, gravando ou amplificando-o através de diferentes meios.Ia usar cabos de aço, cordas de piano e microfones piezo-eléctricos que construí com varetas e fio de aço para captar as vibrações dos ramos e das folhas das árvores,ou somente do vento a soprar através delas, e então amplificar estes sons através de altifalantes, que levei comigo para os montes.
O propósito foi reintroduzir, em forma de reflexo sonoro, os sons no ambiente. Mais tarde, as gravações destas interacções do ambiente com o próprio ambiente serviram para uma série de composições, bem como para a documentação do projecto. Estes locais foram também registados com vídeo e fotografias, dando ao projecto uma quantidade considerável de documentação da obra e do processo.
O trabalho que eu imaginei fazer no início foi o que acabei por realizar, apesar dos cabos de aço não terem conseguido amplificar o som tanto quanto eu gostaria, porque os amplificadores que utilizei não eram suficientemente potentes. Acabei por encontrar outras formas de trabalhar com os microfones piezo-elécticos e os cabos de aço também se revelaram bastante úteis, tendo ficado muito contente com o resultado. Também não tive em consideração a distância entre os locais, pelo que acabei por ser guiado de carro pelo Luís Costa da Binaural/Nodar. Porém, nas duas primeiras intervenções fui sozinho e demorei cerca de uma hora, apesar de que andar com muito equipamentos e pode tornar demasiado cansativo com temperaturas elevadas. Estes foram os dois únicos problemas que encontrei e, naturalmente, como qualquer citadino ignorante: a meteorologia-não há muito que se possa fazer quando está a chover.
A identidade de um lugar é por vezes o ponto de partida para as minhas instalações. Procuro por impulso um lugar e aquilo que quero (ou posso) fazer. E acontece vir a perceber o que quero e posso fazer apenas depois de chegar a esse lugar. Por essa razão, tentei conhecer a comunidade de Nodar através do meu trabalho sonoro, tentando ter uma ideia do lugar e captando o sentido do lugar para o canalizar posteriormente para o meu trabalho.
Parece-me que o som não foi a tónica do projecto mas sim trabalhar no contexto do som para me orientar no meio ambiente. Apesar de ter gravado tudo o que fiz (áudio e vídeo), o mais importante para mim foi subir estes montes, criando estas instalações a partir do meio ambiente.Para mim este foi o ponto essencial de todo o processo: descobrir o meu lugar no meio ambiente através do som.
É através do som que eu tenho uma maior percepção de um ambiente e é isso que espero que o público experiencie. É evidente que ali não havia ninguém para ver os trabalhos, pelo que, a esse nível, a abordagem se tornou conceptual, porque eu não tenho verdadeiramente nada para mostrar a não ser os registos documentais. Talvez a documentação visual seja até mais importante do que a documentação áudio-as gravações sonoras são óptimas mas o mais curioso é ver que não há ninguém na montanha a não ser eu com os altifalantes, tocando nos cabos, com todos estes microfones, criando um sistema completo para trabalhar com o meio ambiente.
Ao contrário de outros projectos que parecem ser baseados no trabalho com gravações sonoras,senti que estava a trabalhar sobretudo com o meio ambiente, a tentar devolver o som a esse mesmo ambiente, amplificando-o através dos cabos e microfones piezo-eléctricos, criando por fim a sua “sombra sonora”. Alcancei um sentimento profundo de cada lugar ao criar uma instalação.Nunca pretendi impor a minha presença no meio ambiente, tentando acentuar o espaço pré-existente–limitando-me a activar o espaço envolvente.
Ao criar uma instalação sonora não me preocupa tanto a qualidade dos sons que depois distribuo no espaço, interessa-me sobretudo que haja uma percepção do espaço. Eu uso o som para activar o lugar, alargando a atenção que damos ao espaço. Quando trabalho num determinado lugar tento encontrar um som que não se imponha ao espaço, que de alguma forma suporte o ambiente natural acústico do lugar.
Resumindo, penso no trabalho realizado por mim como trabalho ambiental. Não o julgo sequer como trabalho sonoro mas como trabalho ambiental no contexto do som.
Jason Kahn actua quer a solo quer de forma colaborativa, usando percussão, sintetizador analógico ou computador, em combinações variáveis. Para grupos de improvisação dirigida, construiu um sistema próprio de notação gráfica. Concebe ainda instalações sonoras para espaços específicos. Estas centram-se em questões ligadas à percepção do espaço através do som. Em 1997, fundou a editora independente de CD “Cut”, tendo produzido até à data vinte e cinco CD’s, do próprio trabalho e de outros artistas.
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