O DEVIR DO COMUM
Ensaio artístico sobre experiências de gestão comunitária da paisagem
De Luís Costa e Ana Rodríguez
“A serra é dos serranos desde que o mundo é mundo, herdada de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar, connosco se há-de haver”.
Aquilino Ribeiro in “Quando os lobos uivam”
As transformações do mundo rural, como a despovoação de muitas aldeias e as alterações dos próprios hábitos sócio-económicos das comunidades, revelam tensões crescentes entre os papeis da propriedade privada, pública e comunitária, no marco de processos como os de florestação massiva, num contexto em que os montes foram perdendo algumas das suas funções como as de pastoreio, limpeza de matos para a cama dos animais e uso da lenha para uso doméstico.
A gestão comunitária nos territórios rurais, os baldios como se designam em Portugal, é tão antiga quanto as próprias civilizações agro-pastoris, incluindo para além dos terrenos, a partilha de infraestruturas de uso comum como moinhos, fornos, eiras, etc., com base em sistemas de acesso estabelecidos pelas próprias comunidades em função de direitos atribuídos às famílias.
O projeto “O devir do comum” explora o sentido atual da partilha comunitária, a partir de experiências de revitalização de baldios em curso no concelho português de Castro Daire, contrastadas com outras experiências de usos comuns, noutras zonas de Portugal e no Uruguai. Neste último país, tendo preponderado a gestão privada e pública da terra, a dimensão da gestão comunitária é notoriamente residual.
A primeira fase do projeto iniciou-se em dezembro de 2024, com um conjunto de entrevistas realizadas na freguesia do Gafanhão (Castro Daire), as quais serão expandidas a outros territórios, incluindo o projeto aspetos de mapeamento geográfico, de sessões coletivas, de análise de documentos e de reflexão multidisciplinar, para criar um produto final que reflita quer a vigência do conceito de “comunitarismo” quer os desafios e oportunidades que o mesmo inclui.
“O devir do comum” é um projeto desenvolvido em parceria com o Mapa sonoro de Uruguay, sendo apoiado pelo Município de Castro Daire através da Biblioteca Municipal de Castro Daire e fazendo igualmente parte do projeto Europa Criativa Réseau Tramontana.
A Binaural Nodar é uma entidade apoiada pela República Portuguesa – Cultura | Direção-Geral das Artes.