MAL DE ULISSES
Uma criação de Rui Catalão

Ateliê dramatúrgico
9-13 dezembro 2024
Biblioteca Municipal de Castro Daire

Uma coprodução entre a Binaural Nodar e a Biblioteca Municipal de Castro Daire, com apoio do Agrupamento de Escolas de Castro Daire e da EPMS – Escola Profissional Mariana Seixas.

Há uma nova população em crescimento acelerado na Europa, bem mais jovem do que a média de idades da restante população europeia, e que tem uma vivência distinta de paisagens que nos são familiares. Inspirado nas desventuras do herói homérico, a síndrome de Ulisses, ou “síndrome do emigrante com stress crónico e múltiplo”, descreve o quadro severo que aflige imigrantes e refugiados. É um termo cunhado pelo psiquiatra espanhol Joseba Achotegui para descrever o sentimento de perda associado ao processo de mudança de um lugar, com hábitos e presenças familiares, para outro onde tudo é desconhecido.

Partindo do conceito psiquiátrico de síndrome de Ulisses, e da sintomatologia que lhe está associada, a pesquisa teatral da criação Mal de Ulisses incidiu em histórias de vida familiares, tendo por base testemunhos pessoais dessa experiência. A recolha de material, recorrendo a entrevistas e depoimentos, visou definir textos sob a forma de monólogos. No processo, foram envolvidas no espetáculo pessoas de diversas comunidades migrantes. A opção por envolver intérpretes com histórias de vida relacionadas com o tema, deveu-se ao valorizar da a experiência na primeira pessoa. O seu comportamento corporal, a sua memória, a sua experiência, são matérias importantes para o trabalho. Com uma grande atenção a aspetos identitários, que definem a cultura, o carácter e as origens dos participantes, o trabalho está ancorado na dramaturgia: foi a partir de entrevistas que se definiu a dramaturgia da peça. Os entrevistados puderam mesmo ser os intérpretes das histórias.

O ciclo de ateliês desenvolvidos em Castro Daire seguiu a seguinte metodologia: a partir de entrevistas realizadas para o desenvolvimento do espetáculo Mal de Ulisses, os participantes fizeram exercícios de leitura. Usando os telemóveis como suporte de leitura, exploraram a dimensão cénica e coreográfica dos textos, assim como o processo de imersão nas personagens que interpretaram.

Rui Catalão:

Articulando conceitos e géneros teatrais como teatro-documentário, teatro-jornalismo, teatro comunitário e teatro-autobiográfico, de que foi pioneiro, cruzando texto com movimentação coreográfica, e improvisação estruturada com fixação de gestos espontâneos, Rui Catalão envolve as comunidades onde intervém no processo criativo, na produção e divulgação dos espetáculos.

Rui Catalão promove um modelo de trabalho estruturante para a comunidade envolvida: o grupo de trabalho deve tornar-se progressivamente autónomo com o avançar do projeto. A título de exemplo: desde que em 2015 começou a trabalhar com habitantes da diáspora africana, no bairro do Vale da Amoreira, Rui Catalão dirigiu sete peças baseadas nos relatos destas pessoas e do seu processo de adaptação. Entretanto, esse grupo autonomizou-se: a Artepólon Associação passou a produzir os seus espetáculos, dirigidos por Joãozinho da Costa, e a orientar nas escolas locais o workshop “E agora faz tu” concebido por Rui Catalão.

Ficha técnica:

Concepção e direcção: Rui Catalão
Direcção técnica: João Chicó
Direcção de Produção: Marta Moreira
Produção e Gestão: Irreal
Coprodução: Teatro Rivoli – Teatro Municipal do Porto; Festival Todos – Caminhada de Culturas; Futurama; Fórum Cultural José Manuel Figueiredo/Centro de Experimentação Artística; Teatro A Oficina; Binaural Nodar e Teatro das Figuras
Apoio Institucional: República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes, Fundação GDA.

Fotografias por Liliana Silva para a Binaural Nodar.

A Binaural Nodar é uma entidade apoiada pela República Portuguesa – Cultura | Direção-Geral das Artes.