ECOS DA IDA E DO RETORNO
Residência Artística
20 fevereiro a 5 março 2023
Município de Vouzela

Com: Ana Margarida Ferreira (Portugal), Liliana Silva (Portugal) e Luciano Piccilli (Argentina)

Organização: Binaural Nodar, em parceria com o Município de Vouzela

Desde o final do século XIX até à atualidade, milhões de portugueses emigraram, procurando alternativas à pobreza, a uma economia de subsistência e/ou à falta de oportunidades de trabalho. Como tal, a emigração é simultaneamente parte da memória e do presente das regiões rurais portuguesas. Em cada aldeia coexistem múltiplas camadas temáticas que se relacionam com as distintas vagas de emigração, aquelas mais longínquas, para o Brasil, Venezuela, Estados Unidos da América, etc. ou aquelas mais próximas, para países europeus como a França, Alemanha, Suíça ou Luxemburgo.

De igual forma, muitas zonas rurais acolhem hoje pessoas originárias de outras paragens dos vários continentes, num processo em sentido contrário ao que encetaram tantos portugueses.O voo migratório pensado em termos histórico-sociais identificou origens, destinos, contextos, motivações e quantificou os fluxos dos que emigraram e dos que regressaram ou não.

Não obstante, existe um leque literalmente infinito de temas que é possível aprofundar quando se contacta diretamente com antigos e atuais emigrantes e com os seus descendentes, como a arquitetura, a economia, a língua, os sentidos de pertença e de inserção cultural dos que emigraram e dos seus descendentes, as percepções sobre a evolução dos lugares de destino e origem, o tipo de vinculação com o mundo rural, as narrações e os registos documentais familiares, a simbologia e semiótica afetiva, a gastronomia e tantos outros.

A Binaural Nodar, em colaboração com o Município de Vouzela, irá acolher a primeira residência artística do seu 17º programa anual em residências artísticas em artes sonoras e media, no âmbito da qual se desenvolverão dois projetos artísticos que pensam e expressam aspetos relacionados com processos migratórios, históricos ou atuais, existentes nas zonas rurais do município de Vouzela.

Ana Margarida Ferreira e Liliana Silva (Portugal)

A equipa da Binaural Nodar irá efetuar um conjunto de entrevistas sonoras e de registos fotográficos com antigos e atuais emigrantes originários de várias aldeias do município de Vouzela, com particular atenção a aspetos relacionados com a “sensorialidade migrante”, ou seja, como a condição de pertença partilhada (entre o lugar de origem e de migração) se reflete nos sentidos (a paisagem visual e sonora, os cheiros, a música, a gastronomia, os objetos com valor simbólico, etc.). As recolhas efetuadas serão integradas com a documentação produzida noutros lugares (Municípios de Viseu e Castro Daire, Uruguai, Brasil, Suíça), para a concepção de uma exposição final sonora e visual e de uma série de podcasts, a apresentar em 2023.

Ana Margarida Ferreira é uma jovem artista contemporânea originária da freguesia rural de Côta, no município de Viseu e que frequenta o segundo ano do Mestrado em Criação Artística Contemporânea da Universidade de Aveiro, no âmbito do qual efetua a partir de fevereiro de 2023 um estágio académico com a Binaural Nodar. Tem apresentado o seu trabalho polissémico (artes visuais, escrita, media, som, etc.) no contexto de exposições coletivas desenvolvidas em ambiente académico.

Liliana Silva é natural de Santo António, Funchal. Terminou em 2014 a sua licenciatura em Artes Plásticas, Ramo Multimédia na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Nesse mesmo ano ingressou no Mestrado em Comunicação Multimédia, Ramo Multimédia Interativo pela Universidade de Aveiro, que viria a concluir em 2016. Desde Agosto de 2017 que desempenha na Binaural Nodar as funções de responsável pelas áreas de comunicação e multimédia, tendo desenvolvido intensa atividade na área de desenho gráfico, gráfica editorial, gravação e edição vídeo, conceção e montagem de exposições, etc.

Luciano Piccilli (Argentina)

Dobras de vozes migrantes ressoam sobre uma paisagem representativa da zona rural de Viseu Dão Lafões. “Reflex” (do lat. reflexus ‘ação de voltar para trás’) é proposto como uma intervenção na paisagem a partir de uma membrana espelhada na qual são traduzidas histórias sobre uma comunidade. De que forma a auralidade de uma região se modifica a partir de seus processos migratórios? A imagem refletida é alterada, o conceito de paisagem é apresentado como uma realidade mutante, um espaço em constante redefinição ativado pelas vozes de quem habita/habitou estes territórios.

Luciano Piccilli (Argentina) é um designer de imagem e som (UBA) nascido em Misiones, Argentina em 1991. Completou estudos de pós-graduação em Música Expandida (UNSAM) e Arte Sonora (UNTREF). Recebeu o 1º Prémio “Instalações e media alternativos” da 3ª Bienal de Design da UBA. Participou de exposições na Argentina, Colômbia, Peru, Estados Unidos e Espanha. O seu trabalho sonoro foi programado pelo Proyecto Tanque, músicas para sitio específico (Arg), a galeria Ruido/Noise em Austin Texas, o festival “First Look” em Los Angeles, Califórnia e o Arquivo Digital “Water of Change” da Índia. Em 2022 participou no Festival Internacional de Som e Arte Interativa INSONORA, realizado na cidade de Madrid.

A residência artística “Ecos da Ida e do Retorno” conta com o apoio logístico do Município de Vouzela e financiamento da Direção-Geral das Artes, através de contrato de apoio bienal.