ECOS DA IDA E DO RETORNO
Residência Artística
12 a 24 setembro 2022
Freguesia de Calde, Município de Viseu
Com: Ana Rodríguez (Uruguai), André Araújo (Portugal), Liliana Silva (Portugal), Luís Costa (Portugal), Tomáš Roček (República Checa)
Organização: Binaural Nodar, em parceria com o Museu do Linho de Várzea de Calde e com a Junta de Freguesia de Calde.
Desde o final do século XIX até à atualidade, milhões de portugueses emigraram, procurando alternativas à pobreza, a uma economia de subsistência e/ou à falta de oportunidades de trabalho. Como tal, a emigração é simultaneamente parte da memória e do presente das regiões rurais portuguesas. Em cada aldeia coexistem múltiplas camadas temáticas que se relacionam com as distintas vagas de emigração, aquelas mais longínquas, para o Brasil, Venezuela, Estados Unidos da América, etc. ou aquelas mais próximas, para países europeus como a França, Alemanha, Suíça ou Luxemburgo.
De igual forma, muitas zonas rurais acolhem hoje pessoas originárias de outras paragens dos vários continentes, num processo em sentido contrário ao que encetaram tantos portugueses.O voo migratório pensado em termos histórico-sociais identificou origens, destinos, contextos, motivações e quantificou os fluxos dos que emigraram e dos que regressaram ou não.
Não obstante, existe um leque literalmente infinito de temas que é possível aprofundar quando se contacta diretamente com antigos e atuais emigrantes e com os seus descendentes, como a arquitetura, a economia, a língua, os sentidos de pertença e de inserção cultural dos que emigraram e dos seus descendentes, as percepções sobre a evolução dos lugares de destino e origem, o tipo de vinculação com o mundo rural, as narrações e os registos documentais familiares, a simbologia e semiótica afetiva, a gastronomia e tantos outros.
A Binaural Nodar, em colaboração com a Junta de Freguesia de Calde e o Museu do Linho de Várzea de Calde, irá acolher a primeira residência artística do seu 16º programa anual em residências artísticas em artes sonoras e media, no âmbito da qual se desenvolverão três projetos artísticos que pensam e expressam aspetos relacionados com processos migratórios, históricos ou atuais, existentes nas zonas rurais da freguesia de Calde:
André Araújo (Portugal):
O jovem músico e artista multidisciplinar André Araújo irá trabalhar a temática da emigração a partir do conflito entre o rural e o urbano, questionando de que forma a memória, enquanto pré-requisito do ser, se relaciona com o conflito do sonho e do percurso real das vivências dos trabalhadores e de como essa memória funciona como validador da realidade, ao incorporar várias dialéticas, entre o oficial e o oficioso, o escrito e o falado, o registado e o transmitido.
André Araújo nasceu no Porto em 1999, é músico e artista visual. Estudou no Conservatório de Música do Porto e terminou a sua licenciatura no Conservatório Real de Bruxelas, estando atualmente a terminar o Mestrado em Criação Artística Contemporânea da Universidade de Aveiro. O caminho que percorreu do jazz e da música improvisada até à música eletrónica, levou-o a explorar mais recentemente as relações entre a arte visual e sonora.
Ana Rodríguez (Uruguai), Liliana Silva (Portugal) e Luís Costa (Portugal):
A equipa da Binaural Nodar irá efetuar um conjunto de entrevistas sonoras e de registos fotográficos com antigos e atuais emigrantes originários da freguesia de Calde, com particular atenção a aspetos relacionados com a “sensorialidade migrante”, ou seja, como a condição de pertença partilhada (entre o lugar de origem e de migração) se reflete nos sentidos (a paisagem visual e sonora, os cheiros, a música, a gastronomia, os objetos com valor simbólico, etc.). As recolhas efetuadas serão integradas com a documentação produzida noutros lugares (Uruguai, Brasil, Suíça), para a concepção de uma exposição final sonora e visual e de uma série de podcasts, a apresentar no 4º trimestre de 2022 e ao longo do ano de 2023.
Ana Rodríguez (n. 1975) nasceu em Montevidéu, vive e pesquisa em contextos rurais desde 2001, ano em que se estabeleceu em Tacuarembó, no norte do Uruguai. Antropóloga formada pela Universidade da República do Uruguai. Cursou o mestrado em Teoria e Prática do Documentário Criativo na Universidade Autónoma de Barcelona. Formou parte da equipa docente do Núcleo de Estudos Rurais (Sede de Tacuarembó da Universidade da República do Uruguai) e entre 2016 e 2018. Criou materiais didáticos audiovisuais sobre género e ruralidade para Faculdade de Agronomia do Uruguai (2016), um CD de contos de tradição oral com paisagens sonoras (Los cuentos de Mamá Carolina, 2013), criou o Mapa Sonoro do Uruguai (2016), sendo, desde 2013, artista e investigadora junto da Binaural Nodar.
Liliana Silva (n. 1991) é natural de Santo António, Funchal. Terminou em 2014 a sua licenciatura em Artes Plásticas, Ramo Multimédia na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Nesse mesmo ano ingressou no Mestrado em Comunicação Multimédia, Ramo Multimédia Interativo pela Universidade de Aveiro, que viria a concluir em 2016. Desde Agosto de 2017 que desempenha na Binaural Nodar as funções de responsável pelas áreas de comunicação e multimédia, tendo desenvolvido intensa atividade na área de desenho gráfico, gráfica editorial, gravação e edição vídeo, concepção e montagem de exposições, etc.
Luís Costa (n. 1968). Curador de práticas artísticas contemporâneas, investigador sonoro, autor, educador e animador cultural em contexto rural. Presidente da direção da Binaural Nodar. Coordenador do Lafões Cult Lab, um, conceito de pesquisa artística multimédia no território de Viseu Dão Lafões o qual acolheu já mais de 150 artistas sonoros/media e investigadores sociais e ambientais oriundos de mais de 20 países. Coordenador do Arquivo Digital Binaural Nodar, um projeto de pesquisa, catalogação e mapeamento sonoro e audiovisual da memória coletiva de territórios rurais da região de Viseu, integrado na rede europeia Tramontana de arquivos de memória de zonas de montanha.
Tomáš Roček (República Checa):
O artista visual e sonoro checo Tomáš Roček focar-se-á na emigração a partir de uma perspetiva de um futuro imaginado pelas pessoas que ficaram na aldeia. A sua ideia é criar um “livro” multimédia composto por mapas mentais, sons, memórias, sentimentos, coleções de diferentes materiais (orgânicos, artefactos), Incisões, marcas, etc. os quais formarão um registo do tempo atual feito por pessoas que imaginam a sua própria emigração.
Tomáš Roček é um artista multimédia originário da República Checa e que trabalha sobretudo com texto (poesia), vídeo, som e performance. Gosta de explorar diferentes meios que lhe permitem permitir pensar diferente. Muitas vezes, recicla materiais (filmagens encontradas em velhas cassetes, objetos…) para tornar o seu trabalho mais sustentável. Organiza também eventos artísticos ligados à ecologia, tendo fundado um festival sobre arte e sustentabilidade (International Landscape Festival TRSY).
A residência artística “Ecos da Ida e do Retorno” conta com o co-financiamento do Município de Viseu e da Direção-Geral das Artes, estando situada no âmbito territorial de intervenção da Direção Regional de Cultura do Centro