RURAL MENTAL
15º aniversario do programa de residências artísticas da Binaural Nodar em artes sonoras e media.
Residência Artística com Angie Saiz, Alma Sauret-Small, Miguel Tavares e Rui Catalão.
7 a 26 junho de 2021
Aldeias do Município de Vouzela e vila de Vouzela
O programa de residências artísticas da Binaural Nodar para 2021, que celebra quinze anos de acolhimento artístico em artes sonoras, media e performance em contextos rurais da região portuguesa de Viseu Dão Lafões, propondo como tema para os projetos a acolher diálogos artísticos entre os lugares e as experiências psicológicas, a serem criados a partir do contacto direto com paisagens e comunidades rurais locais e/ou emanados de reflexões e experiências pessoais dos próprios artistas acolhidos.
Angie Saiz (Chile)
A artista chilena Angie Saiz propõe uma configuração, a partir da paisagem simbólica de Vouzela, de uma coleção de poemas audiovisuais que dialoguem com o estado de normalidade frágil atual, uma que é descartável, instável e vulnerável. Através de um trabalho de cartografia, documentação e produção artística, a residência artística é entendida como um espaço urgente de criação, uma oportunidade de retomar práticas suspensas e uma possibilidade de reencontro com outras pessoas. O projeto joga com o conceito de ecótono – do grego eco- (oikos ou casa) e tom, (tonalidade ou tensão): zona de transição natural entre dois ecossistemas diferentes ou fronteiras ecológicas – usando essa noção de biologia deslocada para o contexto geográfico, para a arqueologia, a história e a natureza, enquanto fontes de construção da memória-esquecimento pessoal e coletiva.
Angie Saiz (n. Santiago, Chile 1977) é uma artista visual com produção de obras em pintura, fotografia, intervenção pública, videoinstalação e arte sonora. O seu trabalho desenvolve problemas estéticos a partir do imaginário biográfico, a intersecção e crise entre as velhas-novas tecnologias e os conceitos de tempo, limbo e ruína. Expôs em importantes espaços do Chile, como o Museu MAC de Arte Contemporânea, o Museu MAVI de Artes Visuais e a Galeria Metropolitana. Também realizou residências artísticas, exposições e curadorias na Itália, Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, México e Estados Unidos. Além disso, é editora e produtora de artes visuais. Atualmente vive e trabalha realizando projetos expositivos e curatoriais, dentro e fora do Chile.
Alma Sauret-Small
Durante a residência artística em Vouzela, a compositora, intérprete e luthier francesa Alma Sauret-Small focará a sua atenção nas harmonias de instrumentos de chamada que são capazes de produzir efeitos emocionais e psicológicos que propiciam e revelam uma interioridade e uma alteridade por meio de suas vibrações e dissonâncias, estando interessada no seu status específico enquanto instrumentos “relacionais”, ou seja só têm sentido e valor porque criam uma relação com as pessoas, com as práticas, ressoando com elas e nelas mesmas.
Alma Sauret-Small é uma compositora, instrumentista e luthier francesa. É diplomada em expressão plástica pela École Supérieure d’Art et Design de Grenoble, estudou viola da gamba no Conservatório Regional de Grenoble e construção de instrumentos musicais no FCMB de Grenoble. É co-criadora e membro ativa da associação Loifol juntamente com Emerra Segarra, com a qual desenvolve projetos editoriais, pedagógicos e intergeracionais. No ano de 2017, Alma Sauret-Small efetuou um estágio Eramus+ com a Binaural Nodar no âmbito do qual colaborou na organização de residências artísticas e montagem de exposições multimédia, tendo criado ainda algumas peças sonoras e uma emissão de rádio.
Miguel Tavares
O projeto de Miguel Tavares não existiria sem a passagem pela pandemia atual, a qual voltou a ativar a memória, mental e muscular de ser obrigado a estar confinado em casa. O artista usará as semanas de residência artística para refletir entre um suposto ambiente idílico rural onde a ansiedade parece não existir e a cidade enquanto possível indutora de pulsões agorafóbicas, desenvolvendo para tal uma abordagem ambulatória e pessoal, que se apresente intimista e de acesso a um tempo que irá procurar apresentar como seu. A par do dictafone, o artista irá também gravar pistas estéreo a partir de apontamentos sonoros oferecidos pela natureza nos locais escolhidos para as reflexões.
Miguel Tavares é formado em Cinema e Imagem em Movimento pela Ar.Co, tendo completado também o curto avançado de artes plásticas na mesma instituição. È professor no departamento de cinema e de imagem em movimento da Ar.Co, músico enquanto Calipso e co-fundador do coletivo cinematográfico Simulacro. Apresentou as suas obras vídeo e instalações audiovisuais em vários contextos como o Fuso – Anual de Video Arte Internacional de Lisboa, o IndieLisboa, O Festival de Novos Realizadores NEXXT, no Meconio – Muestra de Nuevos Cineastas de Madrid e no festival SOMA. Miguel Tavares tem desenvolvido trabalho de câmara, montagem e pós-produções em filmes de realizadores de nomeada como Pedro Costa (“Cavalo Dinheiro”) e Edgar Pêra (“Lisbon Revisited”).
Rui Catalão (com Madiu Furtado)
Rui Catalão tem vindo a desenvolver um projecto teatral a que deu o nome “Ao abrigo da distância”. Tendo começado por ser um conjunto de crónicas a partir da experiência de confinamento, o artista apercebeu-se que na comunidade onde tem trabalhado nos últimos seis anos – Vale da Amoreira – mais de dois terços da população cresceu num contexto familiar em que um dos pais, ou até ambos, está ausente. Para a residência artística de Vouzela Rui Catalão decidiu manter o mesmo alvo de estudo: entrevistar a população local, e tentar perceber que tipo de histórias ocorrem, no que respeita a experiências em que os pais (a mãe, o pai, ambos) estiveram ausentes, mesmo que episodicamente: A causa da separação, o modo de vida que ela proporcionou e as consequências desse afastamento, tanto nas relações familiares, como na relação com a comunidade… O projeto terá a colaboração do jornalista Madiu Furtado na realização de entrevistas.
Rui Catalão é licenciado em comunicação social pela UAL, fez crítica de cinema desde a adolescência no Jornal de Sintra e foi jornalista, crítico de música e de literatura do Público, onde ainda colabora episodicamente. Também escreve uma secção mensal na revista GQ. Como dramaturgista colaborou com João Fiadeiro, Ana Borralho e João Galante, Miguel Pereira, Tonan Quito, Elmano Sancho, Diana Niepce, Mihai Mihalcea, Eduard Gabia, Manuel Pelmus, Mihaela Dancs, Brynjar Bandlien, Madalina Dan. Na área pedagógica, ensina um método de tomada de consciência e criação de narrativas a partir de experiências pessoais a que chamou “O jogo das perguntas difíceis”, de que resultaram, por exemplo, as oficinas de teatro “Agora faz tu”, assim como as peças que criou no Vale da Amoreira com um colectivo de jovens de origem africana que interpretam as suas próprias histórias, com narrativas da guerra, da vida no subúrbio e da diáspora africana: “E agora nós”, “Adriano já não mora aqui”, “Medo a caminho” e “A Rapariga Mandjako”.
Madiu Furtado Embaló (n. Bubaque, Guiné-Bissau, 1992). Deixou a Guiné-Bissau durante a guerra civil, quando tinha oito anos, e instalou-se com a mãe e os irmãos no Vale da Amoreira, onde viveu 16 anos. O pai ficou na Guiné. Foi jornalista do diário regional O Setubalense e colaborou com o Observador. Tem o curso de Comunicação Social e marketing do Instituto Politécnico de Setúbal. Escreveu o romance “Um de nós”, sobre a comunidade africana da margem sul. É o autor dos textos de “Ao abrigo da distância”, a nova peça de Rui Catalão.