É possível afirmar que o processo de pura criação envolve a produção de um objeto desde a sua fundação até aos mais ínfimos detalhes, pelas mãos do criador.

O oleiro molda os elementos de acordo com a sua visão. Fabrica o objeto partindo de uma memória imaginária do mesmo, seja um objeto útil ou de decoração.

Desde o surgimento do plástico e a comum comercialização do metal em objetos do quotidiano, a cerâmica tornou-se uma arte nostálgica e ornamental. O oleiro passa a apresentar-se como um artista em vez de artesão. Neste processo de criação é possível identificar a metafísica de modelação de forças da natureza como: a terra, a água, o ar e o fogo.

O mestre moldador procura o barro em terras aquosas, sendo que posteriormente faz com que a terra e a água se reúnam, fabricando o barro. Finalizada a peça, o barro descansa num processo de secagem, perdendo o elemento de ar. Por fim, o fogo engloba e transforma a peça em algo imutável, com a sua cozedura. A tetra-elementaridade está presente.

ALOFORMIA ELEMENTAR, foi inspirada pelo ciclo de construção de uma peça de Barro Negro, com especial atenção nos elementos naturais acima mencionados. Juntos, fazem parte de um conjunto de etapas progressivas, assim representadas em duas peças de madeira de forma simétrica, mas texturas diferentes, completas com a exibição de uma componente sonora, focada nos elementos de água, fogo e ar.

Qualquer tipo de desenvolvimento perante um projeto exige uma metamorfose e evolução da forma anterior para a seguinte. Como artista, pretendo expor a coexistência inerente dos quatro elementos naturais presentes no processo de criação do oleiro, como estes se vão adaptando e readaptando face à vontade do mestre que os domina.

No barro ficam para sempre marcadas as mãos do oleiro como uma assinatura arcaica, única e irreplicável. A textura em cada pormenor da peça, previamente pensada ou acidentalmente concebida, faz com que cada resultado seja estritamente singular e distinto de qualquer peça irmã. É com um certo “jogo” equilibrista que o mestre consegue os seus resultados idealizados. Não existe um processo acima de outro, mas apenas fases indissociáveis e co-dependentes.

Ana Margarida Ferreira é licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes do Porto e mestre em Criação Artística Contemporânea pela Universidade de Aveiro. Já participou em exposições colectivas como “Da Sombra” (Ermesinde, Portugal – 2020), “Estado de Emergência” (Viseu, Portugal – 2021), “Entre Tempos e Lugares” (Aveiro, Portugal – 2022) e “Hippocampus” (Vilnius, Lituânia – 2023).
Em 2023 desenvolveu o projeto de criação “Janelas de Outrora”, concebido e inaugurado na aldeia de Nogueira de Côta (Viseu, Portugal) e desde março de 2023 é técnica de produção e multimédia na Binaural Nodar – Associação Cultural.

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