ECOS DA IDA E DO RETORNO
Residência Artística
26 junho a 8 julho 2023
Freguesia de Côta (Município de Viseu)

Com: Ana Margarida Ferreira (Portugal), Liliana Silva (Portugal), Luís Costa (Portugal), José Bica (Portugal) e Sofía Balbontín (Chile/Portugal)

Organização: Binaural Nodar, em parceria com o Município de Viseu, a Junta de Freguesia De Côta – Viseu e a Associação Desportiva Recreativa e Cultural de Nogueira de Côta.

Desde o final do século XIX até à atualidade, milhões de portugueses emigraram, procurando alternativas à pobreza, a uma economia de subsistência e/ou à falta de oportunidades de trabalho. Como tal, a emigração é simultaneamente parte da memória e do presente das regiões rurais portuguesas. Em cada aldeia coexistem múltiplas camadas temáticas que se relacionam com as distintas vagas de emigração, aquelas mais longínquas, para o Brasil, Venezuela, Estados Unidos da América, etc. ou aquelas mais próximas, para países europeus como a França, Alemanha, Suíça ou Luxemburgo.

De igual forma, muitas zonas rurais acolhem hoje pessoas originárias de outras paragens dos vários continentes, num processo em sentido contrário ao que encetaram tantos portugueses. O voo migratório pensado em termos histórico-sociais identificou origens, destinos, contextos, motivações e quantificou os fluxos dos que emigraram e dos que regressaram ou não.

Não obstante, existe um leque literalmente infinito de temas que é possível aprofundar quando se contacta diretamente com antigos e atuais emigrantes e com os seus descendentes, como a arquitetura, a economia, a língua, os sentidos de pertença e de inserção cultural dos que emigraram e dos seus descendentes, as percepções sobre a evolução dos lugares de destino e origem, o tipo de vinculação com o mundo rural, as narrações e os registos documentais familiares, a simbologia e semiótica afetiva, a gastronomia e tantos outros.

A Binaural Nodar, em parceria com o Município de Viseu, a Junta de Freguesia de Côta e a Associação Desportiva Recreativa e Cultural de Nogueira de Côta, irá acolher a terceira residência artística do seu 17º programa anual em residências artísticas em artes sonoras e media, no âmbito da qual se desenvolverão três projetos artísticos que pensam e expressam aspetos relacionados com processos migratórios, históricos ou atuais, existentes nas zonas rurais da freguesia de Côta.

Ana Margarida Ferreira, Liliana Silva e Luís Costa (Portugal)

A equipa da Binaural Nodar irá efetuar um conjunto de entrevistas sonoras e de registos fotográficos com antigos e atuais emigrantes originários de várias aldeias da freguesia de Côta (município de Viseu), com particular atenção a aspetos relacionados com a “sensorialidade migrante”, ou seja, como a condição de pertença partilhada (entre o lugar de origem e de migração) se reflete nos sentidos (a paisagem visual e sonora, os cheiros, a música, a gastronomia, os objetos com valor simbólico, etc.). As recolhas efetuadas serão integradas com a documentação produzida pela Binaural Nodar noutras regiões e países, sendo apresentada no final da residência artística na forma de um documentário sonoro e fotográfico.

Ana Margarida Ferreira é uma jovem artista contemporânea originária da freguesia rural de Côta, no município de Viseu e que frequenta o segundo ano do Mestrado em Criação Artística Contemporânea da Universidade de Aveiro, no âmbito do qual efetua a partir de fevereiro de 2023 um estágio académico com a Binaural Nodar. Tem apresentado o seu trabalho polissémico (artes visuais, escrita, media, som, etc.) no contexto de exposições coletivas desenvolvidas em ambiente académico.

Liliana Silva é natural de Santo António, Funchal. Terminou em 2014 a sua licenciatura em Artes Plásticas, Ramo Multimédia na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Nesse mesmo ano ingressou no Mestrado em Comunicação Multimédia, Ramo Multimédia Interativo pela Universidade de Aveiro, que viria a concluir em 2016. Desde Agosto de 2017 que desempenha na Binaural Nodar as funções de responsável pelas áreas de comunicação e multimédia, tendo desenvolvido intensa atividade na área de desenho gráfico, gráfica editorial, gravação e edição vídeo, conceção e montagem de exposições, etc.

Luís Costa é um curador de práticas artísticas contemporâneas, investigador sonoro, autor, educador e animador cultural em contexto rural. Autor de inúmeras obras e instalações sonoras/audiovisuais, editor e autor de livros de perfil etnográfico e artístico, orador em conferências sobre arte, som e território. Presidente da direção da Binaural Nodar desde 2004. Coordenador do Lafões Cult Lab, um, conceito de pesquisa artística multimédia no território de Viseu Dão Lafões o qual acolheu já mais de 150 artistas sonoros/media e investigadores sociais e ambientais oriundos de mais de 20 países. Coordenador do Arquivo Digital Binaural Nodar, um projeto de pesquisa, catalogação e mapeamento sonoro e audiovisual da memória coletiva de territórios rurais da região.

José Bica (Portugal)

O projeto a desenvolver por José Bica contempla a interpretação do tema da migração utilizando leituras de telegramas ao explorar traduções em quatro línguas dos países de destino das vagas de emigração, provenientes das aldeias da freguesia de Côta, onde se desenvolverá o trabalho de campo da residência. A investigação da fonética das diferentes línguas tem como objetivo a correspondência de sons de paisagens sonoras a cada letra, palavra ou frase. Essa correspondência terá́ como base de comparação as similaridades sonoras entre as traduções e as amostras de paisagens sonoras, e será́ complementada com sinais intermitentes – sinais e paisagens sonoras para localização e em movimento no espaço. Considera-se também relevante a orientação para uma investigação documental, através de referências à união dos povos, independentemente das suas diferenças culturais e localização no globo terrestre. Foram pensados quatro pontos de escuta monofónicos com sinal que pode partir de leitores de áudio. As paisagens sonoras serão divididas em matrizes mono para efeito de espacialização sonora utilizando a técnica de reprodução imersiva Ambisonics.

Desde cedo interessado pelo som, José Bica interessa-se pela forma como esse elemento se propaga no espaço e se liga a diferentes suportes, como a pintura, a escultura, o vídeo, a dança e o teatro. A sua pesquisa concentra-se na paisagem sonora e nos efeitos sonoros, na produção e composição musical, ecologia acústica, acústica e psicoacústica lidando com a comunicação. O interesse assumido em explorar a interatividade em diversos ambientes de programação levou a apostar na utilização e manipulação de gravações de campo para a produção de peças sonoras para instalações e também para a criação de poéticas e texturas experimentais em contexto musical. José Bica tem igualmente trabalhado em projetos de documentários e ficções, como operador e designer de som, para televisão, cinema e comerciais.

Sofía Balbontín (Chile/Portugal)

No início, o ecossistema natural forjado pelas suas características geográficas, promoveu a fixação humana na região de Viseu. Atualmente, a evolução das cidades redireciona a sua subsistência da natureza para a tecnologia. O mundo tem um novo foco, um que implicou a desmaterialização das cidades, rumo a uma macroestrutura impercetível de informação. Essa macroestrutura fornece grandes sistemas de comunicação construídos pela troca de informações na forma de ondas eletromagnéticas. Cria polos que convergem nas grandes cidades, deixando grandes extensões de terra em um processo de vacuidade. Aqui, entendemos o termo “vazio” como o processo de esvaziamento em geral, também referido à estrutura social e espacial de um local específico causado pela emigração. A sobreposição de corredores biológicos e eletromagnéticos na zona onde se desenvolve a residência artística, revela uma incoerência que desencadeia uma emigração de pessoas, atraídas pelos grandes polos comerciais de Portugal. Por meio de um processo de acupuntura geográfica que busca um microcosmos de sons, seria possível isolar esse corpo desmaterializado por meio da recolha de situações espaciais que revelam o fenómeno do vazio e da drenagem das pessoas. A proposta artística pretende gerar um ponto de passagem entre os corredores eletromagnéticos e o eco do silêncio daqueles lugares vazios que ficaram para trás no vazio das aldeias rurais de Côta, tornando visíveis essas dimensões invisíveis.

Sofía Balbontín (Santiago, 1985) é uma arquiteta e artista sonora chilena radicada em Lisboa, co-diretora do projeto Resonant Spaces e membro do NLC Nucleo de Lenguaje y Creación UDLA. O seu trabalho centra-se principalmente na interação entre som e espaço, desenvolvendo a partir deste ponto de partida propostas experimentais em torno da música, vídeo, performance e instalação. Sofía é professora na escola de arquitetura Universidad de las Américas, Chile e atualmente cursa um doutoramento em Artes Performativas na Universidade de Lisboa.

Esta residência artística é co-financiada pelo Município de Viseu, no âmbito de protocolo de apoio em vigor.

A Binaural Nodar é uma estrutura cultural apoiada pelo Governo Português – Cultura | Direção-Geral das Artes.