Mapear a paisagem migrante

Lucía Chamorro e Ricardo Arbiza propõem um projeto de criação e de investigação baseado na escuta do ambiente sonoro da zona de Vouzela, centrado no valor cultural dos movimentos migratórios. Os artistas trabalharão a partir de registos sonoros e audiovisuais e conversas com residentes locais para, posteriormente, proporem reflexões sobre diversidade, o património cultural e práticas de escuta. Para Lucía e Ricardo, trabalhar na área de arte sonora é um desafio, dada a predominância atual da cultura visual. Não obstante, a escuta é uma ferramenta importante quando queremos conhecer e valorizar a história e o património cultural de uma comunidade. Os processos e os resultados do projeto poderão ser compartilhados de maneiras diferentes, de acordo com os materiais gerados, podendo assumir a forma de instalação virtual e física, mapas sonoros, material audiovisual, textos, páginas web interativas, entre outros.

Lucía Chamorro é uma artista sonora, que trabalha em vários projetos de pesquisa relacionados com paisagens sonoras, em contextos onde coexistem diversas culturas, gerações, nacionalidades, religiões, classes sociais, memórias e atividades profissionais. Da diversidade de contribuições culturais surgem manifestações como o Flamenco, na Andaluzia (Espanha) onde a artista desenvolve um projeto em curso, no qual busca as sonoridades flamencas enquanto passeia pela cidade de Granada. Em 2013 Lucía Chamorro trabalhou no projeto “Paisaje Sonoro de la Laguna de Rocha”, uma área protegida no Uruguai, com uma grande riqueza de flora e fauna, onde famílias que trabalham na pesca artesanal, guardas florestais, pessoas que viviam na cidade e o “silêncio” coexistem.

Ricardo Arbiza é um artista interdisciplinar, movido pelo desejo de criar novas experiências, tecendo camadas espaciais invisíveis entre a interação humana e o seu contexto físico. Como compositor-performer, ele trabalha de maneiras criativas para envolver o público por meio do espaço ciberfísico, usando Arduino, Raspberry Pi, navegadores Web, aplicativos para telemóvel, bibliotecas JavaScript, experiências de realidade virtual, discos de vinil, fitas de cassete, assim como o uso de instrumentos acústicos e eletroacústicos. Atualmente, e em conjunto com a Universidade de Nova Iorque, Ricardo Arbiza trabalha como pesquisador no projeto “Recuperação e reconstrução histórica da paisagem sonora do antigo Frigorífico Anglo”, lugar denominado a cozinha do mundo durante a Segunda Guerra Mundial, já que produzia e exportava para todo o mundo carne enlatada de bovino. Naquele lugar, a equipa do projeto procura entender os eventos históricos, económicos e sociais das “paisagens da revolução industrial” no Uruguai.