Começar de Novo

A arte vai captar o encontro sem revelar o que se passou. Vai ser uma homenagem àquele lugar, aquelas pessoas e àquele momento.

O encontro é íntimo. O que vai acontecer não vai ser passado para o exterior. Apenas o espírito do momento e do lugar serão partilhados na forma de um conjunto de gravações sonoras que servirão de base para uma composição e na forma de uma instalação: uma reprodução em miniatura, a mais exacta possível, daquele momento-do espaço geográfico e do espaço-tempo sonoro. O som será reproduzido por um conjunto de pequenos speakers controlados por circuitos electrónicos Arduíno.

O ser humano vive numa permanente tentativa de controlar as circunstâncias-as suas e as externas – para atingir um fim desejado. Mas há quem diga que o momento inesperado, não previsto, é infinitamente mais proveitoso. Provavelmente o segredo estará algures no meio.

O fim aqui será um “encontro memorável”. O desafio será decidir quais as circunstâncias que há que controlar e quais as que deverão ficar entregues ao acaso.

No primeiro dia levarei comigo um conjunto de condições iniciais. Uma delas é uma ideia do local para o encontro. Outras são mais práticas: alimentação, conforto, elementos decorativos. Nos dias seguintes as condições irão sendo optimizadas até se chegar a uma configuração que resulta bem. Pretende-se chegar ao “encontro memorável” por aproximações sucessivas.

Tentaremos a todo o custo estarmos sós. Evitaremos a interacção com o mundo exterior. Iremos esquecermo-nos de que estamos a ser registados. Definir-se-ão as condições de registo do encontro no início de cada dia, sem alteração durante o mesmo. A documentação sonora vai ser obsessiva e exaustiva. Pretende-se registar tudo de todos os pontos de vista, em ambas as margens do rio.

O rio como facilitador da experiência memorável. A nascente como metáfora de um novo começo. A arte como uma oportunidade na vida (e vice-versa).

Rui Costa é um artista sonoro oriundo de Lisboa, Portugal. Apresenta publicamente o seu trabalho artístico desde 1998. É um membro fundador e actualmente director artístico da Binaural. Desenvolveu uma série de trabalhos em que explorou a translação para o domínio sonoro de outras realidades, como a experiência turística em Lisboa (“Sightseeing for the Blind”) e um relato de uma viagem de comboio (“Le Train de Bordeaux”, baseado num conto de Marguerite Duras).

Rui Costa colaborou com o músico espanhol Iñaki Rios, com o qual desenvolveu sistemas de composição electrónica em tempo real programados em Max/MSP, Lisa e C sound e desenvolveu vários projectos site specific em Nodar.

Em 2007 começou a colaborar com a performer vocal Manuela Barile, concretizada no projecto “LaScatola”, concebido como uma série de instalações e performances audiovisuais. Rui Costa é orador regular em conferências e ministra workshops dedicados à arte sonora.

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