Fronte[i]ras 07 – Encontro Internacional de Artes Transdisciplinares

Organização: Binaural (Portugal) e Alg-a (Galiza)

Formato: Residências Artísticas + Simpósio + Exposicão Itinerante

Datas: 17 a 30 Setembro de 2007 (residências artísticas + simpósio) | 2 de Outubro de 2007 a 29 de Fevereiro de 2008 (exposição itinerante)

1. Apresentação

O conceito de fronteira é, actualmente, um dos temas mais recorrentes na artes contemporâneas, a que não será alheia a tendência observável em várias práticas artisticas no questionamento dos seus próprios limites (cruzamento / hibridização das artes, arte vs. vida, arte vs. ciência, etc.)

Por um lado, a fronteira é um espaço de múltiplas leituras. Muito mais do que uma linha divisória, é uma zona de fluxo e de interacção. É um espaço fluido onde nos confrontamos com a nossa identidade. A observação do que é “ligeiramente diferente” permite reconhecermo-nos a nós próprios, criar um distanciamento sobre nós que ajuda a recolocar o pensamento. Neste sentido, a fronteira é potencialmente um espaço de “iluminação”.

Por outro lado, a fronteira enquanto linha divisória da diferenciação política, social e cultural exerce uma força “centrípeta” no sentido de uma harmonização territorial, ou seja, da inscrição dos “centros” em qualquer parcela dos respectivos territórios, por mais longínquos que estes estejam.

O caso específico de Portugal e da Galiza é uma evidência da coexistência destes dois conceitos de fronteira. Se, por um lado, existe uma história comum feita de afinidades identificáveis em diversos planos e um esforço de criação de “pontes de diálogo”, ainda subsistem resistências a diversos níveis suscitadas por um excessivo zelo em preservar a “identidade” de cada um dos lados da fronteira.

O Encontro Fronte[i]ras 07 procurará estabelecer linhas de reflexão criativa para algumas das seguintes questões:

* No contexto contemporâneo, ainda necessitamos de identidades colectivas estáveis que forneçam princípios de pertença e protecção para indivíduos, sociedades ou nações?

* Será que estas identidades não são potencialmente perigosas no sentido de contribuírem para a difusão de formas de arrogância e discriminação?

* Será que a atitude inversa (nós = eles) incorpora também o risco de outra degenerescência, a da fusão absoluta? Se todos partilharmos os mesmos valores, os mesmos hábitos, num grande magma de referências, isto não poderá gerar efeitos psicológicos individuais de ausência de identidade? A que lugar ainda pertencemos?

A tensão ambivalente entre localização e necessidade de vinculação, que é uma característica inerente às fronteiras, assume no caso específico do Norte de Portugal e da Galiza uma importância chave.

Tanto a Galiza como o Norte de Portugal são regiões feitas de fronteira. Desde o “marco” separador das leiras (terrenos agrícolas), até às terras raianas e o Rio Minho, co-habitamos o mesmo país contruído com matéria fronteiriça.

Numa época em que certificamos a morte da distância, fazer o trajecto ferroviário Porto-Vigo leva quase o mesmo tempo que percorrer todo Portugal. O eixo atlântico é, em muitos domínios, mais um mito que uma realidade.

O Encontro Fronte[i]ras 07 procurou constituir-se como uma manifestação dessa necesidade de vinculação, comunicativa e aberta, na relação transfronteiriça. Uma relação abordada recentemente no seu aspecto digital, mas totalmente descuidada no seu aspecto físico: ainda que a conexão existe historicamente, a necessidade de vinculação real deve converter-se num tema central de reflexão.

Uma forma efectiva de superar este vazio é através da colaboração entre redes culturais de ambos os lados da raia. As entidades co-organizadoras do Encontro Fronte[i]ras 07, Binaural (Portugal) e Alg-a (Galiza), exemplificam esta ideia de criação colectiva de cultura, esta malha nodal transfronteiriça.

Seguindo a profunda tradição raiana do contrabando, compartilhar cultura continua a ser, ainda hoje em dia, uma realidade sub-oficial, minoritária, mas vitalmente imprescindível.

O Encontro Fronte[i]ras 07 decorreu em simultâneo em locais dos dois lados da fronteira. O programa, que incluiu performances, instalações e conferências, permitirá o intercâmbio, discussão de ideias e projectos entre criadores e pensadores, procurando encorajar processos colaborativos, de descoberta e troca de experiências entre alguns dos artistas mais dinâmicos e inovadores que operam nos domínios das artes intermédia, transdisciplinares, antropológicas, teatro e performance híbrídos, poesia sonora e visual, etc., algumas das expressões artísticas que incorporam na sua própria praxis as noções de fronteira, no sentido mais abstracto do termo.

O encontro foi organizado por duas entidades culturais, uma portuguesa, Binaural, outra galega, Alg-a, com fortes afinidades na sua metodologia e foco de intervenção, aliando um trabalho nas áreas das artes digitais / intermédia a uma pesquisa artística sobre o lugar e a vida.

2. O Encontro Fronte[i]ras 07

Este evento constou de um programa de residências artísticas paralelas na Galiza e em Portugal. Propôs-se a realização de duas residências simultâneas: uma em Nodar (uma pequena aldeia rural do centro de Portugal) e outra nos arredores de Pontevedra (Galiza).

Nos dois espaços de residência conviveram durante 10 dias um conjunto de artistas de diversas proveniências, os quais desenvolveram os respectivos projectos artísticos em articulação com investigadores sociais, que durante o mesmo período levaram a cabo um observatório critico.

Como resultado do trabalho desenvolvido nas residências, foi elaborada uma mostra colectiva dos vários projectos. Esta mostra teve um carácter itinerante, começando em Pontevedra e terminando em S. Pedro do Sul, Portugal.

De forma paralela ao encontro, foi programado um ciclo de conferências e apresentações de projectos audiovisuais ligados à temática proposta.

3. Projectos Artísticos e Teóricos

O tema central da convocatória de projectos foi o conceito de fronteira e limite em todas as suas variantes, a reflexão sobre os múltiplos conceitos relacionados com a temática fronteiriça, focalizando a análise não só na fronteira física, mas também sobre a sua dissolução em fronteiras ideológicas, culturais, virtuais, de habilitações, etc.

Os suportes de criação foram livres (áudio, vídeo, performance, instalação, intermedia, etc.).

Os projectos foram expostos tanto no seu formato original como num formato documental, caso não seja possível a sua transladação para a sala expositiva (por exemplo, no caso de projectos “site-specific” ou de dimensões físicas consideráveis).

Os teóricos convidados para as residências, desenvolveram trabalhos de investigação de campo sobre o conceito de fronteiras, os quais foram expostos no formato conferência durante as jornadas de apresentações.

4. Programa de Actividades, Artistas e Projectos

a) Residências Artísticas Paralelas

17 a 26 de Setembro 2007

Residência artística em Nodar, Portugal, coordenada por Binaural e Associação Cultural de Nodar:

Vered Dror (Israel) – Souvenirs

Maria Idília Martins (Portugal, residente na Venezuela) – Zapatos de Mi pueblo

Amaya González Reyes (Galiza, Espanha) – Transgresión

António Pedro (Portugal) – Eu só quero ser (aquilo que sou)

Maksims Shentelevs (Letónia) – Soundscape Mapping

O observatório crítico desde residência foi coordenado por Bojana Bauer (Sérvia)

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Residência artística na Ilha de San Simón, Galiza, coordenada por Alg-a.org:

Carlos Suárez (Galiza, Espanha) – A morte como Fronteira

Richard Lerman (EUA) – Border / Algae / Acqua

Azul Blaseotto (Argentina) – Ardiente Árbol Genealógico

Leila Durán e Arturo Reboiras (Galiza, Espanha) – Tempo Linear. Tempo Cíclico

Mona Higuchi (EUA) – Ghost Planes

O observatório crítico desde residência foi coordenado por Mona Higuchi (EUA)

b) Conferências | Artist Talks

27 e 28 Setembro 2007

Casa das Campás, Pontevedra (ES)

30 Setembro 2007

Museu de Olaria de Barcelos (PT)

Participantes: artistas seleccionados para as residências artísticas.

Nas conferências na Casa das Campás, para além dos artistas seleccionados para as residências artísticas, participaram ainda os seguintes conferencistas:

Pedro Jiménez (Espanha)

Isabel Valverde (Portugal)

Mona Higuchi (EUA)

Bojana Bauer (Sérvia)

Ibrahim Niang (Mauritânia)

Xavier Fernández (Galiza, Espanha)

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c) Performances ao vivo

29 de Setembro 2007, 21:30 h

Auditório da Biblioteca Municipal de Barcelos (em colaboração com Zoom e Amimuola)

Artistas:

Maksims Shentelevs (Letónia)

Carlos Suárez (Galiza, Espanha)

António Pedro (Portugal)

Performance conjunta final de artistas membros da Alg-a e da Binaural:

Madamme Cell (Galiza, Espanha)

Rui Costa e Manuela Barile (Portugal/Itália)

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Áudio dos concertos:

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d) Exposição Itinerante dos Projectos Artísticos

2 Outubro – 13 Novembro 2007

Pontevedra (Galiza) – Sala X (Faculdade de Belas Artes de Pontevedra) | Casa das Campás (Pontevedra)

15 Dezembro 2007 – 29 Fevereiro 2008

São Pedro do Sul (Portugal) – Centro Social de Carvalhais | Museu Rural de Carvalhais

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5. Créditos

Apoios Financeiros:

Ministério da Cultura – Instituto das Artes (PT) | Câmara Municipal de S. Pedro do Sul (PT) | Xunta de Galicia (ES) | Concello de Pontevedra (ES) | Universidade de Vigo (ES) | Instituto Cervantes em Lisboa (ES) | Embaixada de Israel em Portugal (IL) | Arizona Commission on the Arts (US)

Colaboração:

Zoom – Associação Cultural (PT) | Associação dos Amigos do Museu de Olaria de Barcelos (PT) | Rádio Universitária do Minho (PT) | Fundación Illa de San Simón (ES) | Centro Social de Carvalhais (PT)