Video score for Santa Cruz da Trapa

O vídeo começa com uma introdução narrada, seguindo uma montagem fotográfica que serve como partitura da peça. Esta montagem é composta a partir de uma série de imagens mutáveis que assim se alteram contra um ecrã preto. As fotografias, tiradas durante passeios pela aldeia, formam o material de trabalho básico da trilha sonora. Com o progredir da peça, o rácio de alternação entre as imagens e o ecrã preto aumenta, seguindo uma estrutura comparável com a forma ‘Rondo’.

Com esta forma, a narração persiste-oferecendo uma explicação adicional à estrutura interna da partitura. O texto é bilíngue. Altera entre o inglês e a língua local do lugar onde a performance é apresentada (nestes caso-a língua portuguesa).

A obra é um instrumento aberto, com o requerimento de um mínimo de 2 performers. A reprodução consiste num click-track no canal esquerdo (apenas para pesquisa), sendo que o canal direito terá a trilha sonora completa com gravações de Santa Cruz da Trapa suportando a narração. O princípio básico da peça é fazer com que os performers consigam movimentar-se e produzir sons durante as secções de ecrã preto, enquanto permanecem completamente quietos quando se mostram as fotografias. No entanto, o canto direito de cada fotografia inclui um quadrado preto que pode ser interpretado livremente por via sonora ou acionada sem ter as fotografias em conta.

Eu e a Lilia, chegámos a este conceito pelo que precisamente significa para nós, como artistas provenientes de cidades belgas, que vêm para uma bela e campestre aldeia portuguesa. A nossa primeira reação foi recolher sons e imagens da paisagem. Mais tarde, tentámos encontrar uma forma de fazer um ato performático ao tentar interpretar o material recolhido-o som e movimento-e como este pode ser reproduzido.

Quando chegámos a Portugal, tanto eu como a Lilia estávamos exaustos da vida citadina atarefada e trabalhosa. A residência começou com um conjunto de passeios demorados, que proporcionaram um sentimento de relaxamento idêntico a umas férias temporárias. Na segunda parte da nossa estadia, começamos a desenvolver e explorar a ideia de fazer uma trilha sonora. Obtivemos um maior espaço e organização mental, em contexto de residência do que obteríamos em casa. É improvável que a peça tivesse sido terminada no mesmo espaço de tempo, em casa. Não só a falta de responsabilidades diárias contribuíram para gerar uma nova energia de trabalho para os dois, bem como a paisagem rural que despertaram diferentes perspectivas temporais. Meses depois, ainda perdura em mente esta perspectiva tridimensional de que o nosso ambiente laboral original se trata de uma situação excecional, transformando a paisagem rural no real ambiente de trabalho do artista.

Frederik Croene (1973) é um pianista / compositor / professor, residente em Ghent, Bélgica. Investiga o que poderá significar ser pianista em contexto contemporâneo. Fundou o conceito de Le Piano Démécanisé, piano desmontado, e desde então procura reinventar o seu sentimento e a sua relação com o tradicional. O seu trabalho mais recente envolve eletrônicos (Roll over Czemy), artes visuais (Marsll with artist Karl Van Welden) e recitais conceituais (Mozart Kreidler Mozart, Voyages au bout du Piano).

Lilia Mestre (1968) é uma performer portuguesa, que vive e trabalha em Bruxelas. No seu trabalho, a artista procura usar ferramentas coreográficas em suporte da sua pesquisa do corpo social. Oferece todo o tipo de assistência e atenção à agência, tem trabalhado em assemblages, partituras e configurações inter-subjetivas. Neste momento está envolvida em dois projetos de pesquisa: “And what about Virtuosity?” com Edurne Rubio Shila Anaraki e Frederik Croene, bem como “Choreographic figures-deviation from the line” iniciado por Nikolaus Gansterer. Adicionalmente, Mestre é curadora na Bains Connective Art Laboratory em Bruxelas e em a.pass (advance performance and scenography studies in Brussels – estudos avançados de performance e cenografia em Bruxelas).