Klanghelm/ Sonic Helmet

A nossa experiência quotidiana é baseada, em geral, em dois níveis: o “nível dos olhos” e o “nível do ouvido”. A percepção auditiva determina a sensação de profundidade e de tamanho de um espaço. A nossa percepção difere tendo em conta o tamanho do corpo e o posicionamento no espaço.Outro aspecto da percepção auditiva é a incorporação da plasticidade e da materialidade presentes na fonte sonora e na estrutura do espaço. O som evoca também o aspecto táctil da fonte sonora e a percepção multi-sensorial do receptor. Esta percepção sonora é a chave para a complexidade da experiência sensorial em determinado ambiente, ligando a identidade do espaço com a memória pessoal, os sentidos e a imaginação.

O ambiente tem sempre aspectos diferentes, por exemplo,o espaço urbano, o ambiente rural, etc. Considerando a diferença de complexidade da estrutura do espaço e da densidade da informação, a aceitação por parte dos sentidos do corpo dum determinado ambiente tem igualmente uma qualidade diferente. A minha prática artística está relacionada particularmente com as seguintes questões:

  • Desenvolvimento do contexto auditivo por meio de instalação ou d eobjectos sónicos;
  • Arquivo e composição de ambientes sónicos com um método particular de gravação multi-canal. Este material sonoro forma a base para a composição da instalação ou do objecto sónico.

No início pensava desenvolver um projecto “áudio-táctil”, mas estava tudo em aberto porque queria primeiro ter uma impressão do local. A ideia era caminhar pelas redondezas, equanto ao resultado final, tinha a intenção de usar o meu “Klanghelm / Sonic Helmet” (capacete sónico),o qual proporciona uma experiência sónica peculiar, gerando,através dos seus três canais áudio, uma percepção tanto auditiva como táctil. O capacete transfere um sinal áudio em vibrações tácteis.

Na altura da minha chegada a Nodar,o som do meio ambiente era incrível: cheio de rãs, algo relacionado com a estação do ano, e os chocalhos das vacas, das ovelhas e das cabras, por isso logo desisti das ideias iniciais que trazia. Queria começar do nada, abrir os meus ouvidos. Assim comecei a gravar alguns dos sons que me deixaram impressionado, como aquele som das rãs. Em Berlim, onde resido, sinto falta do som das rãs. Vivi vinte anos no Japão, na província, e aquele som das rãs relembra-me a minha infância. Julgo que esse som teve um grande impacto sobre mim, dado que faz parte de minha biografia sonora.

Assim, procurei criar um objecto sonoro que pudesse imitar o som das rãs, mas tal revelou-se impossível, e comecei a procurar, caminhando pelas redondezas, outros sons que me agradassem.Foi então que comecei a usar um cajado para me ajudar nas caminhadas e descobri que esse objecto também produzia som.Esse som resulta da minha acção, da caminhada, do espaço envolvente. Descobri uma relação entre a minha acção e o espaço envolvente através deste objecto. Ao andar pela relva ou pelas pedras que existem debaixo da ponte, produzo sempre um som diferente. Então construí vários objectos distintos, alguns com paus de madeira, outros com pedras, que produziam sons diferentes em contacto com o chão. Andava em Nodar com microfones ligados aos meus pés, os canais esquerdo e direito separados (em estéreo), e um ou dois microfones no objecto, o cajado. Este movimento cria um ambiente sonoro muito interessante se o ouvirmos através do meu capacete sónico, já que podemos sentir a profundidade e a altura, tal como numa imagem sonora tridimensional.

A ideia de trabalhar com som relacionava-se com os seus aspectos tácteis. O som inclui não só a percepção auditiva mas também a percepção táctil. O som evoca em cada um de nós a lembrança do tacto de qualquer material. Daí a minha vontade em utilizar diferentes materiais, como a madeira, a pedra, etc. Queria usar materiais fortes, como aqueles que se encontram em Nodar. O peso de cada pedra influencia igualmente o som. Recolhi diferentes sons tácteis e fiz uma colagem que tenta contar uma pequena história dos paus que se encontram em Nodar.

Gosto de interagir com os sons, o que por vezes me leva a desenvolver algo nesse processo de jogar com o som. Neste caso, criei um objecto com uma roda feita a partir de uma pedra e de um cajado de madeira. O material adquiriu uma função, e assim foi capaz de gerar complexidade. Ao adicionar mais funções, tornamos o som mais complexo, mas ao complicarmos em demasia corremos o risco de perder a simplicidade do som.

Um aspecto importante do meu trabalho é a minha relação com gravações. Apercebi-me da diferença enorme que separa o som gravado daquele que ouvimos na realidade. Na percepção do espaço a gravação não é tão fiel como os nossos ouvidos, assim comecei a pensar em usar microfones como ouvidos extensíveis, dando-me a possibilidade de inventar o espaço, como se o desenhasse com os microfones. Desta vez, utilizei um gravador de quatro canais, o que significava ter quatro ouvidos no meu corpo e por vezes no objecto, o que significava que o ouvido estava colocado no objecto. O som do objecto está muito próximo dos ouvidos quando usamos o capacete sónico.Conceber este ambiente utilizando quatro perspectivas foi a base da minha ideia.

Satoshi Morita é um artista sonoro Japonês baseado em Berlim. É formado em Estudos Sonoros pela Universidade de Artes de Berlim. Tem apresentado inúmeras instalações sonoras em galerias, museus e espaços não convencionais na Áustria, Inglaterra e em diversos locais da Alemanha. Desenvolve ainda peças para rádio em prestigiadas emissões de arte rádio (WDR 3,Deutchland radio Kultur, etc.) Obteve uma menção honrosa no Prix Ars Electronica de 2008.

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