Paiva Players

Em resposta à chamada de trabalho feita pela Binaural, eu propus produzir várias gravações nas quais seriam selecionados três a cinco voluntários que vivam na secção do rio Paiva, local assinalado para o meu período de residência (data de chegada – 30 de Setembro; data de término – 11 de Outubro de 2010). Estas deverão ser as pessoas que vivam perto do rio, e cujas atividades tenham uma conexão com o rio, não necessariamente profissionais. Submeti uma proposta, a pedir uma demonstração, a estas pessoas, pelas suas atividades diárias, mas a repetir os gestos de forma inconvencional com o objectivo de criar loops sonoros (que nunca fossem iguais, mas nunca inteiramente diferentes uns dos outros). No entanto, esta tarefa revelou ser difícil de alcançar sem as pessoas falarem entre elas. Ademais, o conceito original demonstrou ser fora do alcance dos voluntários, que fora mais sensato desistir de interferir com a performance, ou de impor uma coreografia, esta decisão dictada por necessidade e falta de tempo. Foi necessário encontrar um método diferente para mais tarde compôr os materiais em ordem para alcançar o resultado desejado. Os voluntários selecionados foram locais que regularmente ajudam na colheita e produção de vinho, milho; pessoas que trabalham como pastores, padeiros, talhantes e pedreiros; bem como funcionários de um clube desportivo orientado para turistas – O Clube do Paiva. Durante o trabalho, demonstrou ser necessário expandir a área de gravação, em ordem a reconhecer os papéis dos espíritos e animais que são parceiros no contra balanço para os que vivem na região. As composições resultantes serão a base para a instalação no rio. A peça publicada no CD é uma peça diferente do mesmo material.

(Instalação)

O meu plano original era construir uma estrutura sonora flutuante que seria ancorada no rio, a tocar os sons resultantes do processo acima descrito. Iriam tocar pequenas composições a enaltecer o som das atividades diárias alternadas com sons do rio, misturadas com o repetitivo e constante barulho emitido pelo Paiva ao correr pela sua geografia identificada como uma parte encenada da paisagem. Não só as sessões de gravação foram diferentes do imaginado, bem como a composição final que acabou por ser baseada numa ideia diferente da original (o que acabou por ser mais apropriado). Originalmente, planifiquei uma série de peças de curta duração, cada uma dedicada a cada um dos voluntários. Findou por ser uma variedade de sons arranjados num contínuo de faixas não-sincronizadas, cada uma a fluir de forma diferente, ficando presas (temporariamente) num loop de algumas (senão todas) as faixas.

As formas e qualidades do que iria vir a formar uma composição sonora, viria a tornar-se em algo de grande significado do que seria possível de imaginar antes da residência; formas e qualidades, que poderiam apontar para algumas culturas não-europeias.

Inicialmente o nome “Paiva Players” foi usado como um título em construção para a(s) peça(s) sonora(s), bem como a instalação. Não só se relaciona ao sistema de reprodução sonora, bem como aos voluntários a serem gravados. O nome é antagônico ao termo “global players” (tocadores globais), e aponta para uma aproximação em pequena escala, nomeadamente aquela de um rio específico. Em breve o nome começou a soar mais técnico que filosófico, em consequência decidi renomear a instalação para “Recurrent” (“Recorrente”).

Nascido em Darmstadt, na Alemanha em 1970, Marc Behrens trabalha em diversos níveis cerebrais e físicos. O seu trabalho, maioritariamente, consiste em música electrónica, instalação e a fotografia e vídeo ocasionais. Mais recentemente explora a gravação de campo em locais remotos da China e da floresta Amazônica. Fundou uma companhia incorporada como trabalho artístico social, marcando um ritual de passagem para um banqueiro investidor.

Behrens já atuou e expôs intensivamente pela Europa; Médio Oriente; África do Sul, América do Norte, Ásia de Leste; Desenvolveu e nutriu colaborações com Achim Wollscheid; Bernhard Günter, Francisco López, Jeremy Bernstein, Nikolaus Heyduckand Paulo Raposo, entre outros.

OBRAS ARTÍSTICAS