Rheîa Zóontes e Eudaimonia

Não há grandes certezas quanto à origem do nome da aldeia do Fujaco, no entanto, existe uma história que os habitantes contam sobre tal origem. Reza essa história que ali bem perto do Fujaco se travou, há muitos anos, uma guerra. Da frente da batalha desertou um homem que se escondeu debaixo de uma fraga. Para não adormecer não ser surpreendido pelos lobos, fazia renda. Entretanto, casou e construiu família e assim nasceu a povoação. O nome da aldeia vem precisamente de fujão, referindo-se ao homem que fugiu. Também pode ter a sua origem, dando um segundo sentido, no sítio para onde se esconde o fujão. No fundo de um vale, rodeado por enormes montes cobertos na sua maioria por vegetação rasteira, ergue-se um punhado de casas. Casas pequeninas com uma particularidade em comum, os telhados são feitos de grandes laminas de xisto. Podemos também encontrar nesta aldeia nascentes de água, as fontes Cimeiras, os Sarzedos são exemplos de nascentes que alimentam os moinhos e o ribeiro do Fujaco. Existe uma série de moinhos que se estendem pelo monte, ligados entre si por levas de água que corre a grande velocidade. No alto de um monte, consegue-se ver a Escola, recentemente reconstruída para albergar a associação local, e, em frente, a capelinha de Nossa Senhora dos Remédios.

A felicidade é a percepção da sua expansão ilimitada. Costuma-se dizer que a felicidade é uma condição transitória, difícil de atingir e, sobretudo, de manter. Também se diz que felicidade é o resultado do jogo da sorte, quer seja determinado pelo arbítrio divino ou pela causalidade dos eventos. Bem, tudo isso é verdade se acreditarmos que a felicidade seja só feita de momentos, que só se realizam no gozo, na gratificação instantânea. Na verdade, a felicidade é uma condição que se encontra na continuidade da vida: a felicidade é a própria vida, a sua realização, o seu cumprimento. A felicidade é desafio, risco, ascensão, conquista. Feliz é aquele que não se demite, que não se adapta ao andar das coisas, que não se abatediante da primeira dificuldade, que não espera o “milagre”, mas vai ao encontro da vida, mesmo acolhendo a dor porque ama a vida, deseja-a tal qual ela é. Feliz é aquele que sabe que, para viver feliz, não precisa de procurar a todo custo a sua própria felicidade, mas ser fiel à vida, sem esperar muito dela. Feliz é aquele que sabe renunciar ao excesso, sabe apreciar as pequenas coisas que o quotidiano lhe oferece, que sabe ficar “indiferente” face aos eventos. Em Abril de 2010, a artista residiu em Pendilhe (concelho de Vila Nova de Paiva), nas margens do Rio Mau. Muitas coisas a cativaram: a hospitalidade e a simpatia dos seus habitantes, as suas casas, os seus campos, os seus moinhos de água, a sua bela paisagem. Rheîa Zóontes (aqueles que fluem sem obstáculo) foi para a artista a própria gente de Pendilhe, as pessoas que ali vivem no meio das montanhas, os verdadeiros donos da “makaria” (felicidade) porque com simplicidade, autenticidade e um pouco de alheamento, nos ensinam o que é a felicidade, restaurada no seu significado original.

Manuela Barile (n. Bari, Itália 1978) é uma pesquisadora vocal e performer interdisciplinar que vive no concelho de S. Pedro do Sul. A sua pesquisa artística assenta num trabalho projectual que combina os sons da voz com media diversos (”field recordings”, vídeo, fotografia, instalações, performance, concerto-performance, desenho, escrita). Como performer vocal Manuela Barile já trabalhou ou colaborou com uma diversidade de artistas da cena experimental europeia e norte-americana. Em Junho de 2006 participou com Pino Pipoli no evento de arte contemporânea “Fresco Bosco”, do qual foi curador Achille Bonito Oliva. Manuela Barile iniciou em 2007 uma colaboração com o artista sonoro Português Rui Costa para o desenvolvimento de um projecto intermédia de larga escala, intitulado “La Scatola”, o qual foi concebido como uma série de instalações e/ou performances. Em 2009 concebeu uma série de instalações sonoras e vídeo sobre o sentido dos lugares, que intitulou “Locus in Quo”, projecto apresentado em diversos espaços museológicos e em festivais de vídeo arte europeus e norte-americanos.

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