Moroloja

“Moroloja” é uma instalação vídeo de 11min., inspirada no hino a Demetrade Homero. Mostra uma mulher jovem vestida de preto. Ela está sozinha, sentada numa cadeira dentro de uma casa abandonada em Nodar (Portugal). Ela é Demetra, a deusa do grão e da fertilidade. Ela está a sofrer sozinha, porque perdeu a sua filha. Ela está a viver a experiência do luto. Na sua dor, ela é humana e vulnerável.

Depois da imobilidade, começa um ritual de choro e cântico, aquele que evoca os lamentos de luto de Salento, no sulda Puglia, a região Italiana onde a artista nasceu. Os “Moroloja” são cânticos das “prefiche”, mulheres pagas para se lamentarem durante a vigília do luto da morte de alguém no Salento

Estas mulheres costumavam cantar músicas aflitivas com mímica violenta e frenética, misturada com choros e gritos. Levavam um lenço branco nas mãos que era sacudido e agitado, criando uma espécie de dança rítmica. Nestes cânticos antigos não existiam quaisquer referências ao conceito Cristão da morte e da ressurreição. Depois da morte, existe apenas a dissolução, a noite escura. Nos cânticos, as referências à morte personificada (Thanatos) e ao prenúncio da Fada que determina o destino eram frequentes.

Os “Moroloja” são cânticos improvisados numa estrutura tradicional; as estrofes estão em “griko” (uma língua derivada do Grego ainda falada em algumas aldeias do Salento) e alternam com estrofes no dialecto local.

Os “Moroloja” eram improvisados e adaptados de acordo com as circunstâncias, das expectativas da audiência, ao género e grau de parentesco que essas mulheres tinham com a pessoa que estava em maior sofrimento.

Manuela Barile (n. Bari, Itália 1978) é uma pesquisadora vocal e performer interdisciplinar que vive no concelho de S. Pedro do Sul. A sua pesquisa artística assenta num trabalho projectual que combina os sons da voz com media diversos (”field recordings”, vídeo, fotografia, instalações, performance, concerto-performance, desenho, escrita). Como performer vocal Manuela Barile já trabalhou ou colaborou com uma diversidade de artistas da cena experimental europeia e norte-americana. Em Junho de 2006 participou com Pino Pipoli no evento de arte contemporânea “Fresco Bosco”, do qual foi curador Achille Bonito Oliva. Manuela Barile iniciou em 2007 uma colaboração com o artista sonoro Português Rui Costa para o desenvolvimento de um projecto intermédia de larga escala, intitulado “La Scatola”, o qual foi concebido como uma série de instalações e/ou performances. Em 2009 concebeu uma série de instalações sonoras e vídeo sobre o sentido dos lugares, que intitulou “Locus in Quo”, projecto apresentado em diversos espaços museológicos e em festivais de vídeo arte europeus e norte-americanos.

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