Svalka Nodar Soundscapes Mapping

“Soundscape mapping” (“Mapeamento da Paisagem Sonora”) foi um projecto realizado em Nodar durante o encontro Fronte[i]ras 07, composto por três partes: • Primeira parte: pesquisado ambiente sonoro e intervenção sonora. • Segunda parte: construção de instrumentos apartir de materiais locais. • Terceira parte: performance e exposição de instalação sonora.

Parte 1–A intervenção no espaço e “feld mixing” (mistura sonora de campo com recurso avários canais) centrou-se na exploração do ambiente e possíveis formas de interação com o mesmo. Conforme requeira o tema do encontro Fronte[i]ras 07, a noção de fronteira no projecto surge como uma limitação concretizada por estruturas com uma ordem estável, em particular por lugares que representam comportamentos articulados e previsíveis. A ação de resposta desempenhada pelo observador representa, por sua vez, uma busca de uma nova ordem implementada pelo rearranjo das estruturas a um primeiro nível, da exploração (no campo) e da aplicação de elementos de integração adaptativa no segundo nível (durante aperformance). A pesquisa do espaço sonoro na aldeia de Nodar e arredores originou a escolha de três locais–os novos tanques de água da aldeia (figura A), o denso eucaliptal no alto da encosta (figura B), e uma margem pouco profunda do rio (figura C). As ferramentas utilizadas nesta pesquisa foram oito elementos piezo-eléctricos e uma mesa de mistura.Aparentemente a abordagem seria algo delicada, uma vez que não envolvia mais que afixação dos elementos piezo-eléctricos, sem mexer na ordem do espaço envolvente. Sugeri a ser, também, claramente redutor e até dramático comprimir as qualidades naturais do espaçoem oito canais sonoros diferentes. A mistura de oito canais dá forma a uma subdivisão de elementos, dando assim oportunidade ao “pesquisador” de controlar e manipular. Apesar de isolados entre si, o conjunto subdividido de sons mantém um vínculo com a natureza do espaço uma vez que o “pesquisador” trabalha no local, em tempo real e, portanto, sujeito às suas condições específicas, como o som envolvente e as qualidades físicas do espaço que influenciam as manipulações. O “field mixing”–mistura sonora de campo com recurso avários canais–possibilita uma maior compreensão do espaço, desconstruindo a paisagem sonora em pedaços, que sendo complementares induzem a uma posterior recomposição. As partes sonoras seleccionadas estão indicadas sob aquilo a que podemos chamar de um mapa sonoro do espaço, permitindo navegar na paisagem sonora, de acordo com as indicações propostas pelo “cartógrafo sonoro”. Neste sentido, a mistura sonora é a cartografia da paisagem sonora. A reconstrução da paisagem sonora surge como um mapa ou uma imagem da experiência pessoal, adquirida a partir de uma familiaridade com o mapeamento do espaço. Embora implicitamente subjectiva, a mistura sonora, enquanto registo, permite ao público o acesso a detalhes escondidos da paisagem sonora, da mesma forma que um mapa topográfico permite navegar numa grande extensão de terreno.

SOUNDSCAPE MAPPING A–objeto B–elementos piezo-eléctricos C–mesa de mistura D–gravador Faixa nº 1–tanques de água ressonantes–10:32 min. Dois tanques de metal de cerca de2.5–3 metros de altura. A água bombeada dentro dos tanques ressoa nas suas várias componentes. Captação sonora através de 8 elementos piezoeléctricos. Faixa nº 2–eucaliptos–4:43 min. Várias árvores estão ligadas por elementos piezo-eléctricos à mesa de mistura, nos recessos do tronco e na sua casca. A mistura sonora combina árvores jovens com árvores secas e queimadas pelos incêndios. O vento ressoa no corpo das árvores eproduz um som rangente, raramente audível do exterior. Faixa nº 3–fluxo de água–15:13min. Uma área de aproximadamente um metro quadrado numa margem pouco profunda dorio, naqual o fluxo de água se multiplica por entre as pedras. Oito elementos piezo-eléctricos estão ligados aos seixos, a canas secas e a um disco metálico, conectados a uma plataforma portátil de mistura sonora, captando os cambiantes da ressonância aquática emcontacto com diferentes objectos. O “pesquisador” mistura livremente os diferentes sinais, em tempo real,construindo padrões complexos de som, os quais de outra forma permaneceriam fora do alcance dos nossos sentidos, uma vez que uma paisagem sonora de um rio produz uma soma inarticulada de sons dispersos.

Parte 2–A construção de instrumentos resultou num trabalho com duas fortes vigas de madeira queimadas pelo fogo com cerca de um metro de comprimento, encontradas num curral abandonado numa colina dos arredores de Nodar.Quatro cordas de baixo em aço e duas cordas de guitarra em aço foram presas a cada viga.Em cada viga foram colocados dois elementos piezoeléctricos. A viga com quatro cordas tinha um “pickup” de baixo adicional. O toque nas cordas erafeito com os dedos, combaquetas de madeira, um arco e escovas eléctricas. A superfície rugosa e inacabada foi usada para raspar com os dedos e com escovas.

Parte 3–A performance dividiu-se em três secções–os tanques (A), os eucaliptos (B) e a água (C). Para cada uma das secções utilizei uma mistura de sons pré-gravados e não editados, a acompanhar a instrumentação ao vivo.O material da mistura sonora formou uma parte fundamental da performance, dando contada paisagem sonora (“mapeada”), enquanto que a instrumentação sugeria um segundo nível de pesquisa sonora–uma espécie de exploração póstuma ao local ausente, representada na sua aparência cartográfica ou de imagem sonora. A principal tarefa reservada ao performer, em simultâneo com o público, consistiu na escuta atenta, enquanto que a instrumentação aparecia como uma articulação delicada adicional.

Maksims Shentelevs (my-ym), nascido em Riga, Letónia, é um arquitecto, fotógrafo e artista sonoro que define a paisagem sonora como um campo de actividade denso e auto-referente,moldado pelo movimento sobre posto de objectos no espaço. Começou a trabalhar com “fieldrecordings” em 2002 focando-se na recolha sonora enquanto política não intervencionista de observação de modelos estruturais naturais. Os estudos de campo são tomados como material de base para posterior modelização em estúdio das paisagens sonoras. Maksims interessa-se predominantemente por biótipos referentes a habitats de insectos e outras pequenas criaturas. Presentemente Maksims está envolvido na construção de instrumentos acústicos e eletro-acústicos e de objectos sonoros, enquanto ferramentas para um discurso recíproco com a natureza. Desde 2003 que Maksims participa em residências e festivais na Letónia, Estónia, Finlândia,Portugal, etc., tendo em 2007 organizado em Riga o festival “Mijatmina”, dedicado a paisagens sonoras e a texturas vídeo.